SAUDADES DOS “7 DE SETEMBRO” EM PALMÁCIA
Quando crianças somos induzidos a acreditar em tudo aquilo que nos ensinam, principalmente quando esses ensinamentos partem dos nossos professores, os quais consideramos “os verdadeiros sábios”. Devido a isso, como eu admirava o quadro representativo da Independência do Brasil! E como eu cantava feliz:
“ Já podeis da Pátria filhos,
Ver contente a mãe gentil;
Já raiou a liberdade
No horizonte do Brasil.
Já raiou a liberdade,
Já raiou a liberdade
No horizonte do Brasil...”
Ver contente a mãe gentil;
Já raiou a liberdade
No horizonte do Brasil.
Já raiou a liberdade,
Já raiou a liberdade
No horizonte do Brasil...”
Adorava o amanhecer de cada 7 de setembro na minha cidadezinha - Palmácia! Parecia-me que nesse dia a manhã de sol era mais brilhante, onde eu observava que a rua estava bem varrida, as margens das calçadas pintadas de cal, as árvores da praça enfeitadas de bandeiras brasileiras e aquele imponente palanque de frente para a minha casa, todo ornamentado de verde-amarelo. Nele se concentravam as autoridades da cidade para prestigiar a Parada Cívica, dentre elas o prefeito, a primeira dama, os vereadores, alguns funcionários públicos, o pároco, o delegado e alguns professores que gostavam de discursar, como o professor Walter Rebouças, o professor Nonatinho, a professora dona Izinha... Sentia-me feliz ao contemplar tudo aquilo!
E mamãe me produzia toda “patriota” para a participação no Desfile Cívico, com farda engomada no grude pela “Madinha”, sapatos novos e fita verde-amarela no cabelo, muitas vezes arrumados com laquê! Em outras vezes mamãe me arrumava com alegorias representativas da época. Lembro-me que representei o México, por ocasião da Copa Mundial que aconteceria naquele país; fui florista, porta-bandeira, pelotão de turma e outras... Lembro-me do dia em que tia Terezinha arrumou minha irmã Dodô e minha prima Mirian com perucas para o desfile! (risos). Elas ficaram irreconhecíveis! (risos).
Logo de manhãzinha, com o raiar do sol, eu e meus irmãos éramos acordados pela mamãe para o banho e as arrumações. Enquanto “Madinha” nos banhava, mamãe preparava um reforçante caldo de ovos para a nossa alimentação matinal, pois ela tinha medo de que pudéssemos desfalecer durante o percurso do desfile.
Já arrumada e bem alimentada, eu prestigiava emocionada a passagem de carros e mais carros pau-de-arara que vinham dos distritos com os alunos para o desfile. Veja o transporte escolar: caminhões pau-de arara!!! Eram os alunos das escolas da zona rural: Escolas do Basílio, da Ladeira, do Gado dos Rodrigues e de todos os outros distritos. E os alunos já chegavam cantando, em cima dos paus-de-arara, junto aos seus professores! E eu me emocionava e acompanhava o canto também!
“...Brava gente brasileira!
Longe vá... temor servil:
Ou ficar a pátria livre
Ou morrer pelo Brasil.
Ou ficar a pátria livre
Ou morrer pelo Brasil...”
Depois de meus irmãos todos arrumados, saíamos com a mamãe, de mãos dadas, para a concentração dos alunos, que acontecia sempre no Sítio Contendas, em frente à casa da tia Bibi. Lá, era esperar horas e horas para a arrumação das filas... Os professores correndo de um lado para o outro, arrumando daqui, arrumando dali, bandeiras pra cá, alegorias pra lá... E nós, as criancinhas, se cansando e se fatigando do sol que já queimava nossos rostos.
Quando começava a Marcha Cívica já estávamos cansados de tanto esperar. E saíamos desfilando até o centro da cidade, com os tambores a tocar e a gente a “marchar” no passo certo! Se errássemos o passo, sempre tinha uma professora para advertir o erro, fazendo-nos acertar! Na metade do caminho sempre alguma criança desfalecia e uma das hipóteses mais certa era a má ou nenhuma alimentação daquela criança...
Lembrei-me agora dos carros alegóricos! E com isso lembrei-me do Jipe da Dartagnan todo enfeitado de verde-amarelo... Lembrei-me também da minha irmã Dodô trajada de Princesa Isabel! Da minha irmã Neta vestida de japonesa... Lembrei-me da banda de música a tocar e a gente a cantar, euforicamente:
Lembrei-me agora dos carros alegóricos! E com isso lembrei-me do Jipe da Dartagnan todo enfeitado de verde-amarelo... Lembrei-me também da minha irmã Dodô trajada de Princesa Isabel! Da minha irmã Neta vestida de japonesa... Lembrei-me da banda de música a tocar e a gente a cantar, euforicamente:
“...Os grilhões que nos forjava
Da perfídia astuto ardil...
Houve mão mais poderosa:
Zombou deles o Brasil.
Houve mão mais poderosa:
Da perfídia astuto ardil...
Houve mão mais poderosa:
Zombou deles o Brasil.
Houve mão mais poderosa:
Houve mão mais poderosa:
Zombou deles o Brasil...”
Zombou deles o Brasil...”
Ao subirmos a ladeira que dá para a chegada da rua da Igreja e da praça principal, já estávamos pra “botar os bofes pra fora” de tanta sede e cansaço! E lá vinham as mães com garrafas d’água para saciar nossa sede ardente. Nisso era um desmanchar de filas e de olhares desgostosos das professoras!
Ao passarmos em frente ao palanque das autoridades tínhamos que nos voltar para elas para a saudação, mas eu sempre dava um jeitinho de olhar para trás, lá pra minha casa, e observar meus familiares. Cada pelotão fazia sua apresentação em frente ao palanque e, mais adiante, os alunos ficavam todos concentrados e em pé para ouvir os discursos. E era discurso que não acabava mais... Lembro-me do professor Walter Rebouças em seu discurso dissertativo a enaltecer nossa cidadezinha! Lembro-me do prefeito Chico Damasceno pronunciando, em seu discurso, numa grande vibração, as ditas palavras: “Lindo!!! Lindo este desfile!!!”. Lindo!!! Lindo este desfile!!!. (risos). Lembro-me do professor Nonatinho a saudar nossa terra e a ficar vermelho de tanta euforia! Lembro-me da dona Izinha, professora das antigas em Palmácia (foi professora do meu pai), a fazer o seu discurso interminável... Ela, toda vestida de "Filha de Maria", com aquele medalhão simbólico no pescoço, bem velhinha, mas de uma aparência e lucidez espetacular, a discursar em defensa do Brasil e exaltando nossa cidade! Paralelamente, o sol a enquentar!!! Muitas e muitas vezes eu não entendia "patavina" do que era dito, ou seja, não atinava para o total significado daqueles discursos, mas permanecia em posição de sentido, por obediência à mestra, pois sempre fiu uma aluna comportada, e cantava eufórica o Hino da Independência, também sem saber o que significavam aquelas palavras difíceis:
“...Não temais ímpias falanges,
Que apresentam face hostil;
Vossos peitos, vossos braços
São muralhas do Brasil...
Que apresentam face hostil;
Vossos peitos, vossos braços
São muralhas do Brasil...
Vossos peitos, vossos braços,
Vossos peitos, vossos braços
São muralhas do Brasil...”
Quando a concentração encerrava, o sol já estava quente! E eu marcada por ele! Meu rosto, de branco ficava rosadíssimo, e meus braços marcados em duas cores: branca e vermelha.
Mas eu estava feliz e cantava o que tinha aprendido na escola, mesmo não sabendo traduzir:
“...Parabéns, ó brasileiro,
Já, com garbo varonil,
Do universo entre as nações
Resplandece a do Brasil.
Já, com garbo varonil,
Do universo entre as nações
Resplandece a do Brasil.
Do universo entre as nações
Do universo entre as nações
Resplandece a do Brasil.”
Resplandece a do Brasil.”
ERAM ASSIM OS DIAS 7 DE SETEMBRO DOS ANOS 60!
PURA INOCÊNCIA DE CRIANÇA, ILUDIDA COM ENSINAMENTOS SEM NEXOS!
E HOJE, ENTÃO, EU ME PERGUNTO:
7 DE SETEMBRO – DE QUEM É A INDEPENDÊNCIA?!
Explêndida lembranças e que tais tempos não voltarão mais, nos remetendo ao passado e claro: com muitas saudades!
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