segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012


PALMÁCIA E OS CARNAVAIS DE ONTEM E DE HOJE: CHOQUE DE GERAÇÕES


RECORDAR OU VIVER?!


Identificação da foliã Joana D'Arc Campelo de Andrade
Carnaval 1984


Jornalista Paulo Tadeu e Airton Luz
Carnaval 1986 - Palmácia


Desfile do Bloco "As Tesouras Imperiais de Palmácia"
Carnaval 1982


Foliãs do Bloco "As Tesouras Imperiais de Palmácia"
1982


Foliãs do Carnaval de Outrora - Palmácia


Gabriella, Karol e Karen
Carnaval das Crianças - 1994


O Rei do Maracatu Vozes da África - Airton Luz -  
no seu belíssimo traje de "Pavão Misterioso"
e a prefeita da época - Felismina Campelo
Carnaval de Ontem


Desfile do Maracatu Vozes da África nas ruas de Palmácia
Carnaval de Ontem


Coroação da Rainha do Maracatu Vozes da África
 pela prefeita da época - Felismina Campelo
Carnaval de Ontem


Dama do Paço e Calunga - Maracatu Vozes da África
Carnaval de Ontem



Brincantes do Maracatu Vozes da África em Palmácia
Carnaval de Ontem


Porta- Estandarte do Maracatu Vozes da África
Carnaval de Ontem - Palmácia


Camarote VIP da Família Andrade em Palmácia
Carnaval de Hoje


Carnaval de Hoje - Palmácia



Palmácia - Mela-mela na praça
Carnaval de Hoje


Carnaval de Hoje - Palmácia



Toda vez que se aproxima o reinado de momo meu ser vibra de alegria e expectativa – sempre gostei de carnaval! No entanto, quando a festa começa, observo, saudosista, que aquela alegria contagiante que tomava conta de mim nos carnavais passados não é mais a mesma. Falta-me algo, falta-me a liberdade! Faltam-me os amigos de antigamente! Falta-me o ambiente, a segurança e a reverência de outrora... E sobram-me lembranças da infância e adolescência. Sobram-me recordações de um carnaval inocente, poético, criativo, musical... Um carnaval presente no id, no ego e no superego de cada brincante! Sobram-me recordações dos bailes carnavalescos em casa de amigos, no “Mercado”, no “Salão Paroquial” e no Centro Comunitário. Tudo era muito diferente...
Na simplicidade presente naqueles carnavais, em qualquer local se fazia a festa, que era movida à vitrola ou mesmo aproveitando-se das emissoras de rádio. Lembro-me bem da "Rádio Iracema", e curtíamos pra valer! O “Conjunto Musical” veio muito depois... Era o carnaval das máscaras, das fantasias, do talco, do brilho, das lantejoulas... Havia poema nas roupas e na mente de cada folião. Nossas fantasias eram a essência da beleza e da imaginação, confeccionadas com o brilho do amor da juventude da época... Existia um grande sentimento de prazer, de renovação, de paz de espírito, onde a musicalidade era marcada por gostosas marchinhas carnavalescas que transbordavam sentimentos em suas canções... Era o carnaval dos confetes e serpentinas, do amor puro de Arlequim e Colombina...

  ♫
“Tanto riso, oh! quanta alegria
Mais de mil palhaços no salão
Arlequim está chorando pelo amor da Colombina
No meio da multidão.
Foi bom te ver outra vez
Tá fazendo um ano
Foi no carnaval que passou
Eu sou aquele pierrô
Que te abraçou
Que te beijou, meu amor
A mesma máscara negra
Que esconde o teu rosto
Eu quero matar a saudade.
Vou beijar-te agora
Não me leve a mal
Hoje é carnaval.”

Na solidão dos carnavais de hoje fico a recordar meus carnavais de outrora, dos nossos tempos de “jovens emancipados”, quando procurávamos folias em outras regiões. E Pacoti era o nosso destino depois de arrecadarmos os níqueis para o frete do pau-de-arara do Gilson Rebouças. Tudo ilusão de adolescentes! O carnaval de lá não era melhor que o nosso! No frio intenso da serra pacotiense procurávamos nos esquentar nos cordões de foliões que fazíamos no salão do clube, entrelaçando-os e esquentando corpos e corações apaixonados... E como nos aquecíamos! Mas nada de bebida, nada de droga! A física que esquentava nossos corpos naquele frio serrano era movida à paixão e garra de adolescentes...    

 ♫
 “Epeu construiu o Cavalo de Tróia
E eu construí um carrossel
Pra te levar de bandeira
Pulando até quarta-feira.
Os nossos olhos se viram
Num distinto cordão de foliões,
E desde esse momento um nó
Amarrou os nossos corações...”

Como recordo os blocos carnavalescos que me deram tanto prazer! Me consumo na angústia de um tempo saudoso ao lembrar “As Tesouras Imperiais de Palmácia” e os “Anjos do Gado” na emoção de uma época que se foi! E esse tempo não volta e tudo isso me consome! Essas recordações me matam... Amo Palmácia de então, mas a dos tempos passados, idolatro!

 ♫
“Cidade maravilhosa,
Cheia de encantos mil!
Cidade maravilhosa,
Coração do meu Brasil!
Cidade maravilhosa,
Cheia de encantos mil!
Cidade maravilhosa,
Coração do meu Brasil!
Berço do samba e das lindas canções
Que vivem n'alma da gente,
És o altar dos nossos corações
Que cantam alegremente.
Jardim florido de amor e saudade,
Terra que a todos seduz,
Que Deus te cubra de felicidade,
Ninho de sonho e de luz.”

Diante de toda essa situação, fico dividida entre o “recordar” e o “viver”. Recordar um passado cheio de magia e sensibilidade! Recordar as tardes mominas do gostoso e tranquilo “Carnaval das Crianças”, quando mamãe confeccionava, para nós, seus oito filhos, máscaras e chapéus em cone, utilizando suas habilidades junto à cartolina, “areia prateada”, papel laminado, seda, celofane e elastec! Tudo isso ficou-me na mente e no coração... E eu adorava vê-la nessa labuta e até “ajudava”. Era o dom da criatividade florindo em meu ser...
Recordar todos os bailes carnavalescos que participei no passado é sofrer de saudades! Recordar os desfiles dos blocos na rua... Recordar a entrega de troféus aos participantes... Recordar o desfile do Rei Momo Fernando e da Rainha do Carnaval Gerusa... Do amor que os uniu até hoje... Recordar a passagem do “Maracatu Vozes da África”, com cadeiras cativas na calçada e papai sendo reverenciado pelos “pretos velhos”, orixás e nagôs... É sofrer de saudade! Recordar tudo isso é deixar-me levar pelas cores, pelo ritmo, pela emoção... É recordar e sofrer de saudades! Recordar o jornalista e folclorista, Paulo Tadeu, no comando do “Maracatu Nação Iracema” esbanjando cultura, dedicação e beleza... É sofrer de saudades!
 ♫
"Boa noite senhores
Boa noite senhoras
Deem licença senhores
Deem licença senhoras
É o Maracatu Nação Iracema
Que veio dançar - a, a
Lá no bairro da índia
Dos lábios de mel
De José de Alencar
Santo Antonio da Floresta - ô, ô
Foi quem iluminou
E o Padre Andrade
A Cachoeira abençoou
Ao Coronel Carvalho
Missionário do grande amor - ô, ô
Nossa gratidão
Por este chão que nos presenteou.
No Jardim Iracema
O perfume das rosas
O luar pelas portas
Tocando os corações
Jardim Iracema
Bairro sagrado
Do trabalhador - ô, ô
Gente de fé
e agradecida ao Criador.
Lá lálá lá lálá
Ôô
Lá lálá lá lálá
Ôô
Lá lálá lá lálá
Ôô
Lá lálá lá lálá."

Recordar o conterrâneo e amigo de infância, Airton Luz, símbolo maior do carnaval de Palmácia, fantasiado de “Rei do Maracatu Vozes da África”, no seu belíssimo traje de “Pavão Misterioso”, acompanhando a toada dos tambores, naquela hipnótica cadência rítmica de passos ... É sofrer de saudades!!!

 ♫
“Pavão misterioso
Pássaro formoso
Tudo é mistério
Nesse teu voar
Ai se eu corresse assim
Tantos céus assim
Muita história
Eu tinha pra contar...
Pavão misterioso
Nessa cauda
Aberta em leque
Me guarda moleque
De eterno brincar
Me poupa do vexame
De morrer tão moço
Muita coisa ainda
Quero olhar...
Pavão misterioso
Pássaro formoso
Tudo é mistério
Nesse seu voar
Ai se eu corresse assim
Tantos céus assim
Muita história
Eu tinha pra contar...
Pavão misterioso
Meu pássaro formoso
No escuro dessa noite
Me ajuda a cantar
Derrama essas faíscas
Despeja esse trovão
Desmancha isso tudo, oh!
Que não é certo não...
Pavão misterioso
Pássaro formoso
Um conde raivoso
Não tarda a chegar
Não temas minha donzela
Nossa sorte nessa guerra
Eles são muitos
Mas não podem voar.”

 Recordar os bailes no Centro Comunitário é voltar a ser jovem e sofrer de saudades! Recordar os cordões de amigos a percorrer todo o salão, esbarrando nos paqueras, corpos se chocando, olhos nos olhos do amor inocente... É recordar e sofrer de saudades! É ser masoquista pra viver outrora, viver o que passou, num mundo distante e sublime de reminiscências...

 ♫
“Ô balancê balancê
Quero dançar com você
Entra na roda morena pra ver
Ô balancê balancê.
Quando por mim você passa
Fingindo que não me vê
Meu coração quase se despedaça
No balancê balancê.
Você foi minha cartilha
Você foi meu ABC
E por isso eu sou a maior maravilha
No balancê balancê.
Eu levo a vida pensando
Pensando só em você
E o tempo passa e eu vou me acabando
No balancê balancê."

“Recordar” os carnavais passados ou “viver” o carnaval de hoje, que piora a cada ano, eis a grande questão! Viver a festa momina de hoje é viver o carnaval das paixões mundanas, onde a violência urbana prevalece e domina! É viver a curtição de estrondosos paredões que nos azucrina o juízo. É beber, fumar, se drogar até não mais poder... É viver um carnaval de opressão, de subtração, de exclusão! É viver um carnaval que roubou a pureza e a alegria dos velhos reinados de momo...É viver um carnaval que substituiu as marchinhas por ritmos frenéticos, de melodias sem essência, de letras e danças imorais...

 ♫
“Vou te pegar de jeito
Te levar pro meu apê
Te fazer o enfinca
Até o dia amanhecer.
O enfinca é muito bom
E é fácil de aprender
Quer ir comigo, vamos
Que eu ensino pra você.

Enfinca, Enfinca, Enfinca...”

Tudo que se observa hoje durante nas festas mominas, que me perdoe a juventude, é superficialidade, onde o sexo se torna vulnerável, onde a liberdade é usada de modo deturpado, onde copos e corpos humanos têm a mesma finalidade: ambos são descartáveis!  E isso é ridículo quando o sentido real do carnaval, sua verdadeira essência, é deixar-se levar pelo livre-arbítrio de fantasiar-se de forma engraçada, bizarra e gaiata, para atentar risos. É participar de blocos,  acompanhar trios elétricos e escolas de samba, usando belas fantasias. Se alegrar, enfim! Mas a grande maioria exagera e influencia, que me perdoem os jovens. As próprias músicas, impuras, de letras pervertidas, mobilizam multidões, mobiliza a nova geração em busca de prazeres, de luxúria... O livre-arbítrio está exagerado nesse sentido! E essa liberdade de costumes passou a vigorar e a se propagar com intensidade, proporcionando deslocamentos e folias diferentes e atiçando para a prática do sexo banal, precipitando, assim, o aumento das doenças sexualmente transmissíveis que crescem nesse período.

“Nossa, nossa
Assim você me mata
Ai se eu te pego, ai ai se eu te pego
Delícia, delícia
Assim você me mata
Ai se eu te pego, ai ai se eu te pego
Sábado na balada
A galera começou a dançar
E passou a menina mais linda
Tomei coragem e comecei a falar
Nossa, nossa
Assim você me mata
Ai se eu te pego, ai ai se eu te pego
Delícia, delícia
Assim você me mata
Ai se eu te pego, ai ai se eu te pego
Sábado na balada
A galera começou a dançar
E passou a menina mais linda
Tomei coragem e comecei a falar
Nossa, nossa
Assim você me mata
Ai se eu te pego, ai ai se eu te pego
Delícia, delícia
Assim você me mata
Ai se eu te pego, ai ai se eu te pego.”

Onde esconderam a magia da festa carnavalesca? Onde enterraram essa parte da cultura brasileira? O carnaval está mudado em todos os sentidos: as músicas, as fantasias, o talco, os confetes, as serpentinas, tudo desapareceu... Somente nas escolas de samba se observa um pouco de tradicionalismo! É a influência da realidade sócio-político-econômica em que vivemos... Triste isso! Grande choque de gerações! Tudo está diferente, mas aquela juventude dos tempos passados prefere ser masoquista e  sofrer com as recordações. Ainda vive de recordações... E como vive! Ai, saudade, assim você me mata! (risos).
É... entre o “recordar” e o “viver”, eu fico com o “recordar”, mesmo morrendo de saudades...

“Bandeira branca, amor
Não posso mais.
Pela saudade
Que me invade eu peço paz.
Bandeira branca, amor
Não posso mais.
Pela saudade
Que me invade eu peço paz.
Saudade, mal de amor, de amor...
Saudade, dor que dói demais...
Vem, meu amor!
Bandeira branca eu peço paz.
Bandeira branca, amor
Não posso mais.
Pela saudade
Que me invade eu peço paz.
Bandeira branca, amor
Não posso mais.
Pela saudade
Que me invade eu peço paz.”

Por
Iolanda


MÁSCARA NEGRA


CIDADE MARAVILHOSA


PAVÃO MISTERIOSO


BALANCÊ


ENFINCA


AI SE EU TE PEGO


BANDEIRA BRANCA

Um comentário:

  1. Cara Iolanda. Excelente tambem esta postagem dos carnavais de ontem e de hoje. Tenho saudade daqueles tempos de outrora, onde havia diversao de fato, sem "isso" que atualmente chamam de musicas de carnaval. Sem os axés e Micheis Telós da vida que no meu entender deveriam ficar para os lados da Bahia e outros recantos. E sem tambem esses paredões de som que ao invés de trazerem alegria, só trazem desconforto e aborrecimento para as pessoas de mais idade, que gostariam de diversao e nao de tímpanos doloridos.

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