MEMÓRIAS INTERIORANAS EM VERSO E PROSA
PRÓLOGO
PRÓLOGO
Para dar início às minhas memórias nada melhor do que relembrar aqui a vidinha simples e aconchegante da minha cidadezinha.
Vivo fisicamente em Fortaleza, capital do Ceará, no nordeste do Brasil, onde “vegeto” desde os meus 15 anos, mas moro espiritualmente no interior, naquelas paragens, onde deixei meus pais a me esperar. Meu coração mora em Palmácia, no interior do Ceará, distante 70 km da capital. Em toda folga e quase sempre nos finais de semana dou um pulinho lá, pra sentir o aconchego da família e dos amigos e o ar puro e frio da serra. Aqui em Fortaleza vim para estudar e trabalhar, ganhar a vida. E, por força das circunstâncias, estou até hoje. Lá naquela serra ficou meu coração. Enquanto vou escrevendo, minha mente se ocupa em relembrar aquela paisagem de vida simples: a rua estreita, pavimentada em paralelepípedo, a praça principal, o sol dourando a vizinhança, as serras beijando o horizonte, o morro do Santo Cruzeiro, a montanha da Torre da Lua, a Pedra do Bacamarte, as casas de porta e janelas, dentre elas a casa do Seu Renato (de fachada antiga, de eira e beira e as tradicionais janelas que nos anos 60 eram pontos dos namorados), gente simples com cadeiras na calçada, um subempregado com sua banca de redes, tapetes e toalhas coloridas enfeitando a beirada da praça, o Bar do Chico Macaco, a entrada do mercado, as casas comerciais, em destaque por serem antigas: a "bodega" do Nilson Hermínio e a loja do Seu Aurélio; a igreja matriz com São Francisco de Assis abençoando os cristãos, o Solar dos Sampaio em sua majestosa construção oriunda da primeira metade do século passado, as árvores grandes da praça balançando ao vento da serra, que com seu frescor traz o canto dos passarinhos que volteiam alegres; vez por outra um bando de andorinhas voa do cume da igreja para o telhado das casas comerciais, fazendo os visitantes levantarem a cabeça para apreciar aquela cena fantástica; passa uma criança em sua bicicleta, outras correndo na praça com os amiguinhos; algumas mães e babás dão banho de sol em criancinhas; carros são poucos os que passam na rua, a população usa mais motocicletas, os mais simples utilizam cavalos; os alunos já passaram para a escola, com seus livros sem mochilas e seu fardamento da rede municipal; o verdureiro também já passou em seu carrinho de mão vendendo ainda frutas e legumes; os empregados municipais já passaram para o trabalho, como também já passaram os agricultores para a labuta nos roçados. Durante a tarde a rua fica silenciosa, todos em suas casas desfrutando a sesta. Mais tarde, antes do anoitecer, as pessoas saem de seus trabalhos e vão procurar diversão. Lá longe um agricultor a cavalo conduzindo dois "caçuás" de bananas, fruta típica do lugar; alguns jovens caminham para a praça, outros já estão em conversas animadas, muitos visitam parentes, as crianças compram sorvetes ou batata frita na esquina da rua, alguns adultos fazem caminhadas na praça, outros preferem caminhar cedinho, saindo da entrada da rua para o Basílio, quando começa a descida da serra; as fofoqueiras atualizam os assuntos nas janelas das casas, não faltam aposentados sentados no alpendre da casa do vô Michico; os adolescentes, perfumados, conversam em rodinhas, paquerando; na praça e na rua as pessoas se cumprimentam, pois todas se conhecem. O visitante sente os olhares à sua volta. Ao cair da noite, minha mãe com seus 90 anos de interiorana, por sinal bem conservados, se arruma para a missa das 19h. É assim a minha cidadezinha, cruzando o dia na sua simplicidade.
"ÊTA VIDA BESTA, MEU DEUS!"
Por
Iolanda
Iolanda
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