sábado, 8 de outubro de 2011


AS FESTAS DE OUTUBRO
EM PALMÁCIA DOS ANOS 60



Mês de outubro, festa na cidade,
Do Padroeiro São Francisco de Assis.
A banda, o parque e as quermesses, com acuidade,
 Me contentava muito, me fazia feliz.

Noites animadíssimas: de festa, de alegria,
Bancas de miçangas, de jogos, de guloseimas e de tudo, então.
E eu faceira a andar nos barcos e na ola do “Zé” Bia,
Entre os camelôs, a banda de música e o grande leilão.

Naquelas noites as orações e as novenas,
As alvoradas, a devoção e o fervor
Aumentavam minha fé nas grandes cenas
Do Pobrezinho de Assis, o meu grande protetor.

Os partidos: Azul e Encarnado ditos,
Animavam a festa e os leilões.
E as comissões que fazíamos nos distritos
Alegravam os nossos corações.

Eu pertencia sempre ao Partido Azul
E pra ele estava em constante trabalhar,
Vendendo lacinhos e corações do norte até ao sul
Aos rapazes da cidade pra ganhar...

...Alguns trocados pra ajudar na festa,
Ajudar o partido a vencer e assim
Ajudar a paróquia e, bem em prol desta,
Alegrar meu coração e ficar feliz por mim.

Tinha as bancas de bolos e de argolas,
As olas de carrossel, gigante e de patinhos.
Tiro ao “álvaro” tinha também, ora bolas!
E coitados a mendigar – os pobrezinhos.

Muitas bancas de panelas e de louças,
Barracas de palhas vendendo muita fruta:
Abacaxi em rodelas, algumas moças
Eram vendedoras naquela vida astuta.

Dois tipos de barcos lá chegavam:
Os barcos pequenos e os barcos grandes.
As crianças e os adultos se aninhavam
Nos barcos de madeira coberto de flandres.

Naquelas festas, bem atrás do mercado,
Encontravam-se alguns jogos de azar,
Em que o vício era inveterado,
Deixando a pessoa sem mais nada pra gastar.

Entre aqueles jogos de azar eram montadas
Roletas, bozós, caipira, bacará e tudo até.
Aquelas “Festas de Outubro” eram bem animadas,
Atrás do mercado tinha até cabaré.

Lembro-me, de nome, do cabaré “Chaparral”
Que nas “Festas de Outubro” lá em Palmácia chegou.
Casa de lona com muito raparigal
E atrás do mercado por toda a festa ficou...

...Alegrando os homens casados, os velhos e os solteirões
A satisfazerem qualquer instinto carnal.
Doenças venéreas em certas ocasiões,
Adquiridas por esse prazer banal.

A “moça direita”, que muito se prezava,
Perto daquela casa não podia passar.
Ficava mal vista, pois ali estava
O pecado em pessoa a aperrear.

A gente, de longe, só fazia olhar,
De cima do patamar da Igreja Matriz.
E alguém da turma, bem baixo a cochichar:
“Eu acho que aquela é uma meretriz!”

Os leilões eram animados e de tudo tinha
Pra ser arrematado pelo latifundiário:
Cerveja, bolo e, bem cheia, a galinha,
Tudo isso a ajudar nos cofres do vigário.

As “prendas” eram todas enfeitadas
Com papel celofane e grande laço de fita.
Para serem disputadas e bem arrematadas,
Cada “prenda” ficava, assim, bem bonita.

Quando arrematadas, eram caras as “prendas”,
Elas valiam até por dez de sua unidade.
Ficava a Igreja bem feliz naquelas vendas,
Pois tinha gente rica e caridosa na cidade.

Do Airton Luz eu tinha grandes afeições
Por sua liderança na festa, garra e discernimento.
Tudo ele comandava, até as comissões
Nos Gado dos Ferros, Volta do Rio, Japão e Saco do Vento.

Também fazíamos comissões na Serra Nova,
Gado dos Rodrigues, Jandaíra, Serra Verde e Canadá.
Éramos grandes escoteiros, tirávamos à prova:
A gente apurava muito nas bandas de lá.

Nós chegávamos sorrateiros, de casa em casa,
Pedindo uma ajuda pra Festa de São Francisco.
Ganhávamos galinhas, ovos, legumes! A saudade arrasa!
Tudo era bem vindo, até mesmo algum petisco.

Na barraca do Partido Azul se via
O grande Airton, então, a decorar:
Bandeirolas, faixas, que nem mais cabia,
Por todo canto ele estava a pendurar.

Que Deus o tenha no Céu! Oh! Airton!
Sempre alegre, amigo e fiel companheiro!
Ornamente e decore com o melhor tom
A Casa do Senhor, até o espaço derradeiro.

Alvorada! Significa o nascer do Sol!
Mas para os “brotos” de Palmácia dos anos 60
Era a banda de música a tocar, nosso arrebol,
Três vezes por dia. Oh! Coração! Aguenta!!!

Três vezes por dia tinha as “alvoradas”:
Às seis da manhã, meio dia e seis da tarde.
E nós, adolescentes, eternas enamoradas,
Ao lembrar-me as cenas o meu peito arde...

...Quando das “alvoradas” soava o primeiro toque,
Todas nós corríamos para o patamar
Da Igreja Matriz, aos trancos e reboque,
Para com os músicos conversar e também “flertar”.

Na última noite da “Festa do Padroeiro”
A gente não dormia, via o dia amanhecer.
O leilão “troava”, até o derradeiro
Trunfo ser leiloado, e o cofre abastecer.

Quando amanhecia a festa continuava,
Era o Grande Dia do nosso Padroeiro.
Os camelôs, então, de um tudo “remarcava”,
Isso e aquilo, por qualquer dinheiro.

À tarde a procissão pelas ruas da cidade,
Cânticos, orações, fé e muito amor.
E todas as pessoas, de qualquer idade,
Querendo segurar de São Francisco o andor.

Por
Iolanda

Extraído do Livro "Minha Palmácia de Ontem"


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