terça-feira, 25 de outubro de 2011

SAINDO UM POUCO DO TEMA DO BLOG

 
MINHA VIVÊNCIA COMO ALFABETIZADORA



Veja as paredes repletas de produções textuais - Era a nossa cartilha sendo produzida

Como neste mês do outubro resolvi ressaltar o professor, eu não poderia deixar de escrever um pouco sobre o meu trabalho nessa área. Apesar de estar aposentada, ainda recordo minuciosamente de toda minha vivência em sala de aula como professora, desde a minha querida Alfabetização até a 8ª Série do Ensino Fundamental.
Para a postagem não ficar longa demais, escreverei somente sobre a Alfabetização, que foi a "menina dos meus olhos"; onde me realizei completamente e de onde estou vendo surgir frutos saborosos! O trabalho foi árduo, mas a recompensa está sendo maravilhosa!


"Para haver jardins em flor,
Hóstias em elevação,
Foi mister que o lavrador
Fizesse calos na mão!"  

Minha experiência em Alfabetização remota de longas datas. Mesmo muito antes de iniciar meu curso de professora, ou seja, o Curso Nomal na época, eu já me via, menina, na varanda da minha casa paterna, rodeada de "alunos", exercendo a honrosa profissão de alfabetizadora, tentando imitar minha professora primária, Eunice Leite de Carvalho, onde tomava por base o autoritarismo profissional da época e, vez por outra, valia-me da paciência de que sou possuidora.

A de Amor
B de Baixinho
C de Coração

Durante e depois do Curso Normal, trabalhei em várias escolas particulares: Escola Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, Ginásio Deoclécio Ferro, Centro Educacional Carolino Sucupira Sobrinho, sempre em classes de Alfabetização e 1ª Série. Em 1978, minha irmã Dodô e eu fundamos aqui em Fortaleza o Educandário Matias Beck, que se situava no coração do Montese. Nessa escola expandi meus anseios de professora e minha classe também era a da Alfabetização. Mas, por infaustas contingências, tive um dia  que desvincular-me dessa escola. Porém, toda vez que ia visitá-la, sentia a gratidão e o apreço no semblante de cada aluno, de cada professora e de cada funcionário, porque meu nome havia ficado lá, em memória por minha dedicação.

D de Docinho
E de Escola
F de Feijão

Dos meus ex-alunos do Educandário Matias Beck tenho muitas saudades! Vez por outra me encontro com algum. Muitos são doutores, mas para eles ainda sou a Tia Iolanda da Alfabetização.
Ainda trabalhando no Educandário Matias Beck e em outra escola, fiz um curso universitário noturno, muito sacrificado pela falta de tempo para estudar, mas eu sempre dava um jeitinho, até mesmo de ficar acordada à noite para conciliar as cadeiras. Ao concluí-lo, fiz o concurso do Projeto Vencer, de onde veio minha admissão à rede pública estadual de ensino.

G de Gente
H de Humano
I de Igualdade

Ao passar no concurso, obtendo o 12º lugar dentre mais de 5 mil candidatos, ingressei na Escola de 1º e 2º Graus Dona Júlia Alves Pessoa, no Bairro do Siqueira, também na classe de Alfabetização. Nessa época eu já estava casada e morava aqui na Barra do Ceará. Era um grande sacrifício, porque eu morava em um extremo da cidade e a escola era em outro.

J Juventude
L Liberdade
M Molecagem

Através de muita luta consegui transferir-me para a Escola de 1º e 2º Graus Dona Hilza Diogo de Oliveira, aqui na Barra do Ceará, onde ensinei durante 23 anos, sendo 10 anos na classe de Alfabetização.
Na referida escola ampliei minha carga horária de 100h para 200h através de uma seleção interna e fiquei ensinado também no turno da tarde e ainda na classe de Alfabetização.
Com o ingresso dos concursados do ano de 1992, os ampliados pela seleção interna tiveram que sair das escolas e nessa embalada eu tive que deixar um turno, porque a seleção interna era temporária.

N Natureza
O obrigado
P Proteção!

Porém, mesmo com a admissão dos concursados de 92, as carências nas escolas continuaram. Então a 1ª DERE resolveu chamar os ampliados para transformar a seleção temporária em permanente. Quando tentei voltar para a minha querida classe, que levava meu nome, onde eu continuava ensinando no turno da manhã, encontrei uma dura realidade: na Escola Hilza Diogo não havia carência! Eu teria que procurar outra escola para lecionar no turno da tarde.
Meu diretor, professor Domingos, dando boas informações minhas a uma colega de profissão, conseguiu lotar-me no CERE Antonio Bezerra, escola de grande referência na época. E ele havia me dito que logo que surgisse uma vaga no HDO, essa seria minha.

Q de Quero-quero
R de Riacho
S de Saudade

Passei, então, a lecionar, graças à boa vontade do meu diretor, professor Domingos, no Centro Educacional de Referência Professora Maria José Santos Ferreira Gomes - CERE Antonio Bezerra, numa classe de Alfabetização disfarçada de 1ª Série. Dediquei-me de tal forma ao Processo de Alfabetizar, que meu trabalho foi logo reconhecido por todos da escola e pelos pais dos alunos e no ano seguinte fui promovida, passando a ser Alfabetizadora do Apoio Pedagógico Específico, onde passei a trabalhar com crianças portadoras de dificuldades de aprendizagem. E minha missão não parou por aí, pois ainda tinha muita garra e muito o que fazer!

 T de Terra
U de Universo
V de Vitória!

Porém, como ainda hoje acontece,  eu sentia na pele o descaso dos governantes perante as escolas públicas, pois o material escolar, apesar de ser escasso, chegava com muito atraso às escolas. Nós ficávamos esperando pelas cartilhas e essas tardavam, atrapalhando o processo de ensino-aprendizagem. E enquanto as cartilhas não chegavam, eu me valia de palavras de fichas, seguidas do desenho e também da leitura de rótulos. Nessa época eu trabalhava utilizando o Método da Palavração. Mas, mesmo assim, não ficava satisfeita, me faltava alguma coisa... Era como se, numa edificação, o pedreiro não utilizasse argamassa para fortalecer o seu trabalho...Eu achava o cúmulo trabalhar sem cartilha!

X o que que é?
É Xuxa
Z é Zum zum zum zum zum...

Portanto, a diretora do CERE Antonio Bezerra também acreditava por demais no meu trabalho e isso elevava muito minha autoestima, fazendo com que eu procurasse progredir mais e mais... Eu ensinava pela manhã no HDO e à tarde no CERE Antonio Bezerra.
Até que um dia, depois de muitas reciclagens, de ter participado de muitos encontros do pré-escolar, de ter incorporado muitas ideias por parte dos técnicos da antiga 1ª DERE (hoje CREDE 21), resolvi fazer uma grande inovação no meu modo de alfabetizar. Dei uma reviravolta na minha prática docente e passei a aceitar a ideia de trabalhar sem cartilha e me livrar de vez da falta de consideração dos governantes para com a educação escolar.

Vamos cantar
Vamos brincar
Alegria pra valer!
O abecedário da Xuxa
Vamos aprender!

Lembro-me bem que foi no auge da transmissão da linha construtivista para a escola pública que me propus a uma mudança e passei  a me perguntar: "Será que as cartilhas estão, realmente, atendendo todas as necessidades das crianças? Será que as palavras-chaves das cartilhas têm a ver sempre com o cotidiano dos alunos? Será que nós não poderíamos formar a nossa própria cartilha?" Foi aí que a coisa mudou de figura... Percebi que usando minha bagagem de conhecimentos, junto com a bagagem de conhecimentos vivenciados pelos alunos, poderíamos construir a nossa própria cartilha! Eu queria seguir a linha construtivista de Jean Piaget!

A de Amor
B de Baixinho
C de Coração

Então, a partir dessa reflexão, decidi que trabalharia com a técnica da produção de texto na formação da cartilha. Faltava-me somente saber qual método seguir, já que me desvincularia do Método da Palavração. A essa altura eu já conhecia todos os métodos de ensino-aprendizagem da leitura devido às reciclagens e aperfeiçoamentos oferecidos ao pré-escolar pela rede estadual de ensino. Optei em usar o Método da Sentenciação, por ser mais acessível à criança e de fácil assimilação, pelo fato de as sentenças serem pensamentos de sentido completo, porém breves.

D de Docinho
E de Escola
F de Feijão

Usando o Método da Sentenciação dentro da técnica da produção de textos, eu me utilizaria de quase todos os métodos de ensino da leitura dentro de um espaço de tempo mínimo, com a vantagem de uma aprendizagem máxima por parte das crianças. Foi valendo-me desse ponto de vista que escolhi o referido método como bastão nessa perseverante, mas gratificante batalha de ensinar os mistérios da leitura. Mas... Alguém haverá de perguntar: "Como se processa essa metodologia?" 
Para que se entenda todo o processo será necessário uma divisão por etapas. Vamos lá! 
G de Gente
H de Humano
I de Igualdade

COMO SE PRODUZ UM TEXTO EM CLASSES DE ALFABETIZAÇÃO?


Antes de se começar a produzir textos numa classe de Alfabetização será aconselhável que o alfabetizador induza sua turma a uma visão global das vogais, dos encontros vocálicos e do alfabeto. Essa visão não deve ser demorada e nem desmotivadora, mas precisa ser trabalhada de uma maneira prazerosa, dentro de um caráter lúdico, onde sejam envolvidas todas as formas de letras: maiúsculas, minúsculas, de "mão" e de "máquina". Depois que a turma tem essa visão rápida das vogais e suas junções e do alfabeto e sua importância no processo da leitura e escrita, o professor passará a estudar um meio de produzir o primeiro texto com seus alunos.

J Juventude
L Liberdade
M Molecagem

Porém, a produção do texto não deve ser feita aleatoriamente. Deve-se ter algum objetivo para tal! E o verdadeiro objetivo, nesse caso, é ensinar o silabário de uma forma agradável, levando a turma a dominá-lo de uma maneira gostosa, sem, no entanto, tornar-se cansativo para ela. Então, o seguinte passo desse processo, para o professor, é procurar meios de estimular seus alunos. Se ele quer ensinar as sílabas ca, co, cu e ma, me, mi, mo, mu, deverá, de início, ter em mente palavras significativas que envolvam, pelo menos, um elemento deste conjunto de sílabas. Por exemplo: Minha Escola - onde aparecem as sílabas mi e co. A partir daí, começa-se o procedimento da produção do texto sobre estas palavras significativas: Minha Escola. Daí o professor começará a fazer perguntas sobre escola, ler histórias da escola, mostrar gravuras, filmes, cânticos...

N Natureza
O obrigado
P Proteção!

Tendo em vista as palavras significativas, no caso Minha Escola,  o professor alfabetizador começará motivando a turma para a produção de sentenças (frases curtas) sobre estas palavras significativas.
A motivação ou estímulo é de grande importância para a técnica de produzir textos, pois segundo Piaget, "a construção do conhecimento se dá a partir da interações dinâmicas entre a criança e o mundo; entre a criança e os objetos externos".
No entanto, a função do professor neste sentido é promover o maior número possível de interações entre o aluno e a aprendizagem. Quanto mais o professor lançar mão de objetos concretos e de situações que envolvam prazer, tanto mais estimulará seus alunos e promoverá, sem dúvida, a aprendizagem.

Q de Quero-Quero
R de Riacho
S de Saudade

Existem inúmeras maneiras de se estimular uma turma de Alfabetização para a técnica da produção de textos. Pode-se usar músicas, jogos, gravuras, histórias infantis, adivinhações, filmes, desenhos etc. Quando o professor sentir que sua turma já está estimulada, ele deverá passar para outra parte do processo, que é a produção oral pelos alunos, do texto coletivo que lhes serviu de estímulo, e escrita do próprio texto no quadro de giz, pelo professor.
Você talvez esteja se perguntando: "Como será essa produção oral?". Pois bem, estando os alunos bastante estimulados para a produção oral do texto coletivo, que é a produção de sentenças breves, provavelmente eles expressarão, durante a produção, vivências fora da escola, suas opiniões e brincadeiras.  Caberá ao professor fazer um apanhado minucioso de toda a produção oral, associar a vivência de cada aluno à sua própria vivência (pois o professor também fará parte da produção coletiva do texto) e ele, então, chegará a um contexto geral que será o texto coletivo propriamente dito, copiando-o no quadro de giz, ou seja, os alunos irão produzindo oralmente as frases (sentenças) sobre a Escola, no caso, e o professor irá copiando essas frases no quadro de giz.

 T de Terra
U de Universo
V de Vitória!

A seguir, o professor fará o estudo do texto com os alunos, levando-os a memorizá-lo como um todo. Nos dias subsequentes, professor e alunos farão o estudo detalhado de cada parte do texto, frisando bem o aprendizado de cada sentença (frase) e, em especial, das palavras significativas (título do texto). O professor transferirá para uma cartolina o texto produzido no quadro de giz, colocando-o na parede da sala e tirará uma cópia (mimeografado na época) do mesmo para cada aluno. Depois serão estudadas as sílabas e as letras dessas palavras significativas até que 90% da turma aprenda. Não há tempo estipulado para tal. Os primeiros textos levarão mais tempo, porém, com a continuação os alunos se habituarão ao processo e o tempo de aprendizagem irá diminuindo gradativamente.

X o que que é?
É Xuxa
Z é Zum zum zum zum zum...

Você deverá ter notado que o professor não perdeu tempo ensinando o alfabeto e as sílabas separadamente e sim, num contexto, sempre motivando seus alunos. 
A última etapa do processo será a criação, pelos alunos, de novas palavras envolvendo as sílabas que foram estudadas, depois de novas frases e, finalmente, cada aluno produzirá seu próprio texto escrito.

Em cada produção textual serão estudadas sílabas novas até que se estude todas as sílabas simples do alfabeto, porque quando o aluno sentir o "estalo da leitura" ele próprio assimilará as sílabas complexas.

OBSERVAÇÕES

Deu para notar que eu não me prendi a ensinar o alfabeto e as sílabas isoladamente, mas num contexto, motivando sempre os alunos? Que os alunos formaram um texto oral baseados em suas vivências devido à motivação? Que eu parti do geral para o particular, ou seja, do texto para a letra, e, no final comecei do particular para o geral, ou seja, da letra para o texto?

Pois bem, este é o MÉTODO DA SENTENCIAÇÃO, onde não será preciso que o aluno conheça todo o alfabeto, aquela lenga-lenga de A,B,C,D... e nem todas as sílabas para poder escrever, mas ele irá conhecendo-as à medida que for aparecendo nas sentenças de textos que forem produzidos por eles e, depois de conhecê-las, logicamente serão capazes de formar, sozinhos,  palavras, frases e textos.

Vamos cantar
Vamos brincar
Alegria pra valer!
O abecedário da Xuxa
Vamos aprender!

Foi dessa maneira que alfabetizei muitas crianças e onde me desvinculei das cartilhas do governo, pois passamos a estudar através dos textos que produzíamos e, no final do ano, cada aluno preparava, através de desenhos, a capa da sua cartilha. Ao findar as aulas, a cartilha estava terminada e a turma toda lendo.

Na próxima postagem farei uma amostragem desse processo, para  tirar algumas dúvidas...

Desculpe pela postagem ter ficado muito longa!
Por
Iolanda




3 comentários:

  1. Oi, Iolanda. Que linda que você é, em compartilhar conosco sua história de alfabetizadora. Espero que possamos conversar bastante. um beijo!

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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  3. Obrigada, Susana! Fique à vontade para o que você precisar no blog. Um abraço.

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