RECORDANDO MINHA PRIMEIRA PROFESSORA
EUNICE LEITE DE CARVALHO
ESCOLA MONSENHOR TABOSA
Lembro da minha primeira escolinha – casa “sagrada”
A qual por nada no mundo eu desobedecia,
Mas que somente uma vez fui castigada
Porque, sempre nervosa, a tabuada eu esquecia.
À hora da “sabatina” eu suava
Ao ficávamos todos ao redor da mestra.
E quando a tabuada eu acertava
Ficava muito feliz e era aquela festa...
...Porque eu detestava aquela aula “problemática”,
Pois na minha vida ela nunca me entrou.
Essa “espantosa história de Matemática”,
Jamais na minha “cachimônia” encaixou.
Muitas e muitas vezes eu sempre via
Quando algum colega uns “bolos” levava.
Umas vezes porque as datas não sabia,
Outras vezes porque a tabuada ele errava.
Um dia distante, atrás da porta, um empecilho,
Madrinha Eunice, sem dó nem piedade,
Colocou sobre uns caroços de milho
Um colega ajoelhado, na maior ansiedade.
Era assim a Escola Monsenhor Tabosa,
O meu segundo lar, o meu viver.
Madrinha Eunice não era nada prosa,
Pois queria, deveras, o nosso aprender.
Ela era meu ídolo e eu não sabia,
Por muitas e muitas vezes a imitava.
Na varanda lá de casa eu aprendia
Numa escolinha que eu mesma improvisava.
Nunca imaginei de que um dia, numa era,
Também uma professora eu viria a ser
E que usaria por base os exemplos, de vera,
Da mestra que um dia me fez florescer.
Na pequena escolinha, nas festas de fim de ano,
Mesa arrumada, com toalha branca e jarro de flores.
Os pais empolgados, na expectativa, isso eu não me engano,
Das apresentações dos seus grandes amores.
Nós, filhos – alunos, alegres e inocentes,
Dirigidos pela mestra, saíamos a apresentar
Danças, cânticos, poesias, teatro, conscientes
De alegrar nossos pais e a festa abrilhantar.
Lembro-me, prazerosa, quando Madrinha Eunice
Em um momento da festa passava a entregar
Aos nossos pais a inocência da nossa meninice:
As nossas provas finais, e a todos a relatar...
...O resultado daquele nosso ano de estudo
Nas provas escritas em folhas de papel almaço.
Na capa tinha o nome da escola, nosso nome e tudo,
E um decalque de flores, e de fita um grande laço.
As palavras da mestra ficaram em minha mente,
Guardo-as na memória e também no coração,
Quando ela falava alto e alegremente,
Com grande veemência e com empolgação:
“2º Ano Primário – Iolanda Campelo de Andrade
Aprovada plenamente – 1º lugar!”
E eu saía faceira, na minha tenra idade
As provas a receber para depois vibrar.
Na minha Escola Monsenhor Tabosa
Eu vivia alegre no meu florescer.
Era uma vida sublime e bem gostosa,
Ensinamentos e emoções enchiam o meu viver.
A mestra era nossa madrinha de fogueira,
Era a nossa deusa, o nosso saber maior.
Ela nos prendia pela “algibeira”
E dela tínhamos “medo”, orgulho e muito amor.
Era professora leiga, não tinha diploma,
Mas ensinava bem, sua fama corria mundo.
Sua escola era a melhor da cidade, e até de Roma,
Pela dedicação que ela tinha bem a fundo.
Ensinava a todos juntos, do “Alfabeto” ao 4º Ano,
Ajudando um aqui e outro ali na sua escola,
A “decorar pontos”, tabuadas, símbolos e decano
E nas aulas a palmatória “comia de esmola”.
Eu, como sou canhota, a mestra não aceitava,
“Que aquilo não era jeito de se escrever!”
E a minha mão esquerda, às vezes, ela amarrava
Para eu, com a mão direita, o “dever” fazer.
Eu concordava com ela e bem queria
Com a mão direita aprender a escrever.
Mas eu tentava muito e não conseguia
Porque aquilo era impossível de acontecer.
Acho que Madrinha Eunice tinha nesse ato
Um pouco de noção do gesto que fazia.
O laço era frouxo, uma cama de gato,
A mão saía fácil, quando eu bem queria.
Na frente da mestra muito eu tentava
A escrita com a mão direita rabiscar.
Mas a mestra ao dar as costas, eu aproveitava,
Tirava a mão do laço e passava a copiar.
Vê-se aí que minha mestra não tinha estudo,
De teorias pedagógicas não tinha noção.
Ela achava que fazia o bem naquilo tudo
Ao amarrar na carteira a minha mão.
Hoje eu sei que essa ação é impossível,
Mexe até com o nosso psicológico.
Mexe com o nosso cérebro e é incrível
Mudar o que de certo está tão lógico.
À Madrinha Eunice, na sua ignorância,
De fatos desse tipo temos a perdoar.
Ações dessa forma temos a tolerância
Pelo que ela nos ensinou a alcançar.
Descanse na paz eterna, Madrinha Eunice,
E continue sua missão com os anjinhos.
Que aqui na Terra à nossa meninice
Com certeza ensinou-nos os caminhos.
Por
Iolanda
Extraído do livro "Minha Palmácia de Ontem"
Iolanda!!!
ResponderExcluirSou João Mariano da Silva (O Sabiá). Teu grande amigo e de todos que tive o Prazer de, quando criança, compartilhar os ensinamentos da Grande e Estimada "MADRINHA EUNICE". Sou grande admirador de tudo que se fala de Palmácia. Sabes que Eram tempos de Ouro e que nada, hoje em dia, imita os nossos dias que jamais voltarão.
Moro em uma cidadezinha do Rio de Janeiro, chamada 'PINHEIRAL". O incrivel é que não tem nenhum Pinheiro.
Palmácia tem as nossas lindas Palmeiras.
Beijos
Sabiá.