terça-feira, 27 de dezembro de 2011


FECHAMOS AS 100 POSTAGENS! 
QUE VENHA MUITO MAIS EM 2012!!!



MARCAS DO QUE SE FOI


OS INCRÍVEIS


Este ano quero paz
No meu coração
Quem quiser ter um amigo
Que me dê a mão...

O tempo passa e com ele
Caminhamos todos juntos
Sem parar
Nossos passos pelo chão
Vão ficar...

Marcas do que se foi
Sonhos que vamos ter
Como todo dia nasce
Novo em cada amanhecer...(2x)

Este ano quero paz
No meu coração
Quem quiser ter um amigo
Que me dê a mão...

O tempo passa e com ele
Caminhamos todos juntos
Sem parar
Nossos passos pelo chão
Vão ficar...

Marcas do que se foi
Sonhos que vamos ter
Como todo dia nasce
Novo em cada amanhecer...(4x)


sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011


ESTA LEMBRAREI PARA SEMPRE...


“MADINHA” MARIA

Lembro-me da “madinha” Maria, nossa doméstica,
Que por todos nós tinha grande afeição.
Ela era madrinha de quase todos lá de casa,
Do meu segundo ao último irmão.

Só não era “madinha” da Dodô
Porque quando lá em casa ela “chegara”
Dodô já havia nascido, era uma flor,
Era grandinha e já se “batizara”.

"Madinha" Maria nos contava histórias
De bruxas, de fadas, de árvores de Natal,
De príncipes, de princesas, de guerras e de glórias,
De almas penas e de tudo, afinal.


Nos embalos das cantigas de ninar
Guardo na memória que minha “madinha”
Cantava “Asa Branca” pra me balançar
E eu dormia, eu era menininha...

...E não entendia que aquela canção
Que me fazia ninar como um anjinho
Trazia-lhe uma triste recordação
Do seu lar, do seu saudoso ninho.

Ela era “das bandas” do sertão de Caridade,
Lá “dos Cafundós”, onde as chuvas não caíam,
Onde a seca castigava, a fome e a necessidade
Cruzavam-se dias e noites e por lá permaneciam.

“Madinha” passou conosco muita era,
Perto de onze, doze anos, por aí...
Foi-se embora na minha primavera,
Mas a lembrança dela de mim não quis sair...

Por
Iolanda

Poema extraído do livro:
Minha Palmácia de Ontem



quarta-feira, 21 de dezembro de 2011



HISTÓRIA DA "MADINHA" 
OU 
A PRIMEIRA ÁRVORE DE NATAL



"Madinha" Maria foi uma das nossas domésticas. Leal, trabalhadeira, responsável, eis algumas de suas qualidades. Passou mais de doze anos lá em casa e, por seu grande carisma às crianças, mamãe a tomou por comadre sete vezes. Ela foi a nossa Madrinha de Apresentar; amadrinhando a mim e quase todos os meus irmãos, só não a Dodô, porque quando lá em casa ela chegou Dodô já era grandinha e já havia se batizado.
“Madinha” Maria era a tal! “Pau pra toda obra”, babá amiga, companheira, cozinheira, lavadeira, engomadeira, arrumadeira e muitas vezes, uma verdadeira Dona Carochinha! Mas não a Dona Carochinha de Monteiro Lobato, aquela baratinha sempre enfezada e de mau humor, mas uma Dona Carochinha ainda um pouco nova, pra não dizer moça velha, que gostava de nos contar histórias de fadas e bruxas, príncipes e princesas, reis e rainhas, cidade e campo, guerra e paz, castelos, lobisomens, almas penadas, assombrações... Uuui! Tudo povoado de grande suspense, onde “Madinha”, sem saber que isso não era aconselhável, procurava sempre uma maneira de nos provocar medo, agitação, concentração e grande vontade de saber o final. Nas histórias de almas e assombrações eu as ouvia de olhos fechados e, às vezes, me retirava porque sempre fui uma pessoa muito medrosa.
Os enredos das histórias eram misteriosos, porém não deixavam de ter um caráter doutrinal, ou seja, de nos incutir lições de moral, como no caso de procurar sermos respeitosos e obedientes aos nossos pais e com os irmãos sermos companheiros, amigos e tal e tal. 
Eu ficava empolgada com suas "histórias de trancoso", como ela falava. Às vezes lhe perguntava o que era trancoso, mas ela não sabia explicar direito e dizia apenas que eram as histórias inventadas. E como eu tinha medo das histórias de almas, mesmo sabendo que eram inventadas! Adorava as de príncipes e princesas, isso sim!  
“Madinha” sempre nos contava histórias quando terminava seus afazeres domésticos ou à noitinha, quando íamos dormir. Lembro-me que muitas vezes ela nos reunia nos batentes da escada do quintal lá de casa e viajávamos nos seus contos gostosos.
Como não tenho nenhuma foto da “Madinha”, fiquei a procurar na internet algo similar e deparei-me com esse desenho acima que é, de fato, muito parecido com o nosso aconchego na hora das contações de histórias. Quem conheceu a cozinha antiga lá de casa dar pra perceber a grande semelhança, onde “nós” estamos reunidos lá, ao lado do velho fogão à lenha. E o desenho é tão parecido que se pode ver a “Madinha” contando histórias, rodeada pelas oito crianças da casa: Dodô, Lúcia, Iolanda, Socorro, Benjamim, Neta, Joana e Elizabeth. Encostado na mesa está o Benjamim, nosso mano, que tanto no desenho como na realidade é diferente da gente na cor da pele. Está faltando somente a janelinha que dava para o quintal, que ficava ao lado dessa réstia decorativa de cebolas. Coincidência, não é?!
Porém, o objetivo primordial em escrever sobre as histórias da “Madinha” foi o desejo de expor aqui uma bela história que ela nos contou sobre o surgimento da primeira árvore de Natal; história que guardo na memória e faz-me lembrá-la toda vez que vejo alguém montando esse símbolo natalino. Ela nos contou essa lenda e a mesma nunca mais saiu da minha mente.
A lenda da primeira árvore de Natal é mais ou menos assim: era inverno na noite do nascimento de Jesus e a natureza dormia debaixo de um manto branco de gelo. Na cidade de Belém da Judeia o Céu estava belíssimo. As estrelas brilhavam esplendorosamente, enquanto na Terra as árvores choravam de frio, despojadas de suas folhas e flores. Somente o pinheirinho estava ali, verde e vicejante, árvore que tanto no verão como no inverno glacial das terras do Oriente nunca perde suas folhas e sempre se mostra majestoso.
E naquela noite nebulosa, enquanto as outras árvores derramavam copiosas lágrimas geladas, o pinheirinho imperava naquele inverno frio, não com arrogância, mas com um gesto peculiar, próprio dele mesmo.
Ali bem próximo, numa pobre gruta, se encontrava a Virgem Maria e seu casto esposo José, que tinham vindo de longe e estavam cansados de tanto procurar um lugar para passar a noite. Como na cidade de Belém da Judeia os hoteis estavam lotados, eles tinham resolvido procurar qualquer lugar para se abrigar do gelo e do frio. Protegidos, os dois rezavam ao redor de uma manjedoura. A linda jovem Maria estava muito feliz porque em poucos minutos seria Mãe: a Mãe do Redentor, a Mãe do Menino Deus!
Felizmente, para a alegria de todo aquele lugar, o Menino Deus nasceu. Nasceu Jesus! Era meia-noite! Pela obra e graça do Divino Espírito Santo nascera o Salvador do mundo! Era uma criança diferente, vinha para nos livrar dos pecados! Vinha para nos salvar! A Virgem Maria o colocou naquela caminha de capim e de repente se ouviu sons de flautas. Eram todos os anjos do Céu glorificando o nascimento de Jesus! As estrelas, no firmamento, passaram a cintilar com mais intensidade e uma abundância de anjos a descer do Céu, anunciavam o extraordinário acontecimento:

"GLÓRIA A DEUS NAS ALTURAS
E PAZ NA TERRA AOS HOMENS DE BOA VONTADE!"

Aquele lugar, que há poucos minutos estivera triste, gélido e seco, se transformou, como num passe de mágica, num lugar maravilhoso. Tudo passou a ter ares primaveris, menos o pinheirinho. As árvores, antes tristes, de galhos secos e congelados, passaram a tomar vigor de primavera, a renovarem seus galhos, a criarem folhas e flores para glorificar o Menino Deus! E o pinheirinho sem nenhuma modificação! Por já estar verdejante e não possuir flores, não tinha como se “arrumar” para alegrar o Menino Jesus! E isso o entristeceu!  
O ar se tornou perfumado com o aroma das flores e tudo ficou mais bonito e colorido! O local se tornou esplendoroso! A natureza ganhou vida! Todas as estrelas do firmamento passaram a brilhar com maior intensidade para louvar o Salvador do mundo! Muitos animais, grandes e pequenos, se avizinhavam da gruta em busca de conhecer Jesus!  Os passarinhos trinavam mais alto e alegremente! Somente o pinheirinho estava triste! Nada tinha para se renovar, para alegrar o Salvador! Ele, que era o único a permanecer verde nas noites gélidas de inverno, agora era o único a permanecer como antes! Só ele não tinha flores para ofertar a Jesus! E seus galhos não serviam de presente, pois eram espinhentos e machucariam o Salvador! E com isso ele chorava baixinho! E todas as árvores perceberam aquela tristeza e nada puderam fazer!
Mas as estrelas no Céu, ao verem aquela cena, se penalizaram da árvore tristonha e resolveram ajudá-la. Todas juntas decidiram dar, cada uma, um pouquinho de luminosidade para o pinheirinho. E como um raio elas desceram do Céu e iluminaram a árvore tristonha, que, de repente se viu quase a incendiar-se! Num passe de mágica o pinheirinho ficou todo coberto de estrelas, com luzes de todas as cores, espalhando uma luminosidade nunca vista na Terra. E com isso ficou muito alegre! Enfeitado dessa forma pelas estrelas teria meios de alegrar o Menino Deus.
Ao ver aquela árvore tão linda e iluminada, o Menino Jesus sorriu e ergueu as mãozinhas para pegar aquelas luzes tão brilhantes. E o pinheirinho sorriu também e voltou a viver feliz...
Durante todo o tempo em que Jesus passou na Terra se repetiu essa mesma cena em cada aniversário Dele: as estrelas desprendiam-se do firmamento para pousar nos galhos de todos os pinheirinhos da Terra e, juntos, serem presentes para o Menino Deus. Mas depois que Jesus Cristo foi viver com seu Pai, no Céu, as estrelas deixaram de pousar nos pinheirinhos, pois resolveram subir mais alto do que já estavam para ficar mais perto da Santíssima Trindade, a fim de brilhar mais ainda naquela vida eterna.
Então na Terra, próximo ao Natal, as criancinhas começaram a enfeitar todos os pinheirinhos que encontraram, colocando enfeites os mais variados possíveis: luzes pisca-pisca, presentinhos, bolinhas coloridas luminosas, estrelinhas reluzentes, tudo para esperar a chegada do Menino Deus. Elas ofereciam o que tinham de melhor para alegrar seus corações e louvar o Salvador do mundo.
E ainda hoje, em toda época de Natal, vemos essa maravilha de cenário por todo o mundo. Os seres humanos de bons corações procuram a melhor forma de agradar a Deus feito Menino.
Que esse gesto se perpetue e que possamos a cada ano renovar nossas esperanças de um mundo melhor para aqueles que vivem afastados de Deus. Que o Menino Deus se compadeça e toque os corações daqueles que vivem no pecado para que todos, um dia, possamos compartilhar de uma grande festa no Céu.

Feliz Natal e um Ano Novo cheio de prosperidade a todos os meus amigos do Blog, Facebook, Orkut, Habbo, Sonico, MSN, entre outros... E a todos os meus amigos que ainda não aderiram a essa maravilhosa ferramenta, o computador.
Também aos meus familiares desejo tudo de maravilhoso nesse Natal e Ano Novo!  


"GLÓRIA A DEUS NAS ALTURAS
E PAZ NA TERRA AOS HOMENS DE BOA VONTADE!"

Por
Iolanda




segunda-feira, 19 de dezembro de 2011


OUTRA FONTE EM MINHA VIDA!
CHUA! CHUÁ!
CHUÊ! CHUÊ! 



A PERENE FONTE

Lembro-me, saudosa, da perene fonte,
              Fenômeno extraordinário daquele meu viver,      
Quando eu, junto às amigas, “ao monte”,
Íamos tomar banho ao entardecer!

Ainda hoje essa perene fonte
De Bica chamada, está a abastecer
O nosso povo, o nosso horizonte
De água pura que vive a correr.

Porém, hoje o modo de abastecimento
Está moderno, está mais avançado.
A água vai às casas por encanamento,
Não mais nos jegues, com as cargas de lado.

No meu tempo de menina era assim:
As cargas d’água iam em um jumento
Da Bica ao pote pra cessar, enfim,
Aquele modo de abastecimento.

Na fonte, cedinho, era uma algazarra:
Bater de latas, relinchos de jumento.
E de água pura, quem tinha mais garra
Enchia logo as cargas, e o peito de contentamento.

Qualquer pessoa que na estrada passasse,
Perto da Bica ao raiar da aurora,
Ouvia o chuar da água, os assobios, o enlace
Das cargas aos jumentos, e os gritos: “Eeeia! Vamboora!”

No Sítio Bica do Major Salu,
Meu bisavô que eu não conheci,
A água era dada pra mim e pra tu,
Mas hoje é paga e isso ele não quis.

Durante toda a manhã se presenciava
O comboio trotando na poeira da estrada.
As senhoras ao coar no pano, a água tratava.
E os jumentos cansados daquela triste jornada.

Já na parte da tarde a Bica ficava vaga,
Propensa ao banho por quem lá passasse.
E ia muita gente, aproveitando a saga,
Antes que o sino da Matriz a Ave Maria tocasse.

Sempre íamos de turma para o banho,
Turma de mulheres, turma de garotas.
Cada família carregando seu belo rebanho:
Avós, mães, meninas e crianças rotas.

No topo da serra, na entrada da fonte
Tínhamos que parar pra nos certificar
Se entre as bananeiras, ao pé daquele monte,
Estava o sexo oposto nas águas a se banhar.

E alguém da nossa turma: “Tem homem aí?!”
Gritava bem alto, pra ser logo ouvida.
E lá de baixo um grito: “Não! Só tem mulher aqui!!!”
E a turma, alegremente, descia em seguida.

                As crianças despidas, sem nada de anexos,     
                    Nas águas da Bica a se deliciar.                       
              O respeito era mantido, para ambos os sexos,
                 Vez perdida um moleque a nos espreitar.

Lembro-me, nitidamente, em uma bela tarde,
Todos lá de casa pra Bica a caminhar.
Guardo na lembrança e meu peito arde:
"Vó" Marizinha, mamãe, tias, primas, eu e manas a conversar.

Descemos, contentes, o alto da fonte,
Mas antes a costumeira pergunta a fazer.
E as pernas correndo, vencendo o monte,
Pro banho da Bica feliz receber.

Um pé de castanhola com pregos lá na Bica tinha
Pra turma toda, de cabide servir.
Pendurar as roupas a gente se detinha
E pro banho ia, naquele convir.

As muitas pedrinhas entre a pedra lisa
À qual nos apoiávamos, os pés a ralar.
Pedrinhas branquinhas, redondas e a brisa
Da serra lá tinha, pra nos embalar.

Entre correrias e muitas brincadeiras
A turma feliz, o banho “repete”.
De verde pintura, as muitas bananeiras
Eram as paredes da nossa “toalette”.

O sabonete Phebo da “vó” Marizinha,
O talhe da Bica, a água a descer,
Aquela castanhola e as brancas pedrinhas
Ficaram na lembrança do meu florescer.

Por
Iolanda

Poema extraído do livro:
Minha Palmácia de Ontem


VÍDEO PARA RELAXAR


sexta-feira, 16 de dezembro de 2011


O OLHO D'ÁGUA
  

Hoje sonhei com a fonte do Sítio “Cabocos”. Revi papai, com sua inseparável foice, a cortar as ervas daninhas que teimavam em querer ocupar aquele paraíso e vi-me sentada debaixo do velho coqueiro anão em que tantas vezes brinquei... No sonho, eu molhava minhas mãos na água da fonte e meus pés repousavam na água represada da barragem, enquanto meus irmãos se deliciavam no banho, cada um com suas boias feitas de troncos de bananeiras. E como eu estava feliz! O canto dos pássaros se misturava ao barulhinho da fonte a jorrar: Chuá! Chuá! E a água para a represa a correr: Chuê! Chuê!
O sonho parecia real e acordei com aquele barulhinho de fonte cantando: Chuá! Chuá! Chuê! Chuê! Não queria ter acordado! Desejei continuar vivendo aquilo tudo, voltar no tempo e vivenciar novamente aquela passagem da minha infância! Revolvi-me na cama e notei que meu digníssimo já tinha se levantado e estava no banho: Chuá! Chuá! Chuê! Chuê!  Eis a associação para o sentido do sonho: o barulho da água a correr do chuveiro levou-me a um passado remoto! Fez-me sentir, por momentos, aquela felicidade que o tempo se encarregou de destruir...
Quando criança eu não resistia a um passeio no sítio. Cada passeio era único; cada dia uma novidade!  Achava fascinante aquele líquido a nascer daquele olho d’água e ficava a olhar, absorta, o jorrar da fonte pequenina. Muitas e muitas vezes eu não resistia à tentação de barrar aquele curso d’água que teimava em correr para a represa. Inúmeras vezes juntava, com minhas mãos e meus pés, o barro úmido, à frente do filete d’água, na tentativa de impedi-lo que corresse para a barragem, mas o filete-menino crescia, avolumava-se, rodava inquieto e, de repente, destruía a frágil barreira em que eu pretendera deter-lhe as águas caminheiras e corria gracioso, e já bem volumoso pela disputa, para a nossa piscina, indo ao encontro dos que já se deleitavam no banho. Enquanto o filete-menino, tão criança quanto eu, trabalhava na tentativa de expandir-se, nós, eu e meus irmãos, nos deleitávamos com esse maravilhoso fenômeno.
Naquele lugar, nas horas de ócio que eram muitas, passávamos momentos de enorme felicidade. Que saudades de tudo! A barragem era a nossa piscina natural, era como um mar imenso, aliás, aquele era o nosso mar, pois o outro só conhecíamos nos livros!
Grandes blocos de pedras, misturados ao barro, represavam as águas da fonte perene, daquele olho d’água pequenino, impedindo-as que corressem totalmente sítio afora. Ali naquela barragem, entre a fonte e a parede de pedras, dávamos expansão aos nossos desejos de ventura e de felicidade! Até mesmo o filete-menino esquecia por instantes o seu curso d’água e se deleitava, curioso, com os nossos gritos, braçadas, mergulhos, seguidos do nado sincronizado através das músicas trinadas pelos pássaros, que também se deliciavam com aquela cena fantástica.
Enquanto desfrutávamos do banho, papai, com enorme prazer, corria pelo sítio com uma folha no canto da boca, a colher frutos para a nossa merenda. E a água que bebíamos durante o passeio era a mais gostosa, natural e pura: sugada do coco verde! Bebíamos o quanto nosso organismo aguentasse. Depois, papai ainda fazia uma colher com a própria casca, para saborearmos o coco nascente, aquela calda gostosa! Ah, tempo bom!
Para nós, a fonte tinha voz: Chuá! Chuá! E gritava a correr: Chuê! Chuê! Sempre ouvíamos seus sussurros, dizendo-nos segredos que as pessoas grandes não sabiam escutar. Nós a escutávamos e a entendíamos, porque a amávamos. Chuá! Chuá! Era a fonte a amar! Chuê! Chuê! Era a fonte a viver...
Essa felicidade durou anos e anos para nós... E a vida corria feliz! E a fonte a cantar: Chuá! Chuá! E a água a correr: Chuê! Chuê! E o filete-menino sempre a se renovar: Chuá! Chuá! E ligeiro a correr: Chuê! Chuê!
Porém, como não há bem que sempre dure, com o tempo a fonte perene viu as criancinhas crescerem e procurarem-na pouco. Saudoso de uma mãozinha a atrapalhar-lhe o caminho, o filete-menino crescia. O olho d’água deixou de ouvir gritos de crianças e passou a se sentir triste... Sentiu ciúmes por tê-lo trocado pela cidade grande! Mas estava sempre ali para quando o quisessem...  Seus amigos o abandonaram por outros amores, por outro mar... Por outro mar de águas azuis... É... O curso da vida nos afastou daquele curso de água. Não somos mais os mesmos: nem nós e nem a fonte...
Tivemos que crescer e ir procurar nos firmar na vida. A fonte não suportou a separação e, baixinho, passou a chorar: Chuá! Chuá! Mas ainda a correr: Chuê! Chuê!
Um dia, papai teve a ideia de aproveitar também o curso d’água para outros fins, fora a irrigação das plantas, já que o banho de barragem não mais deleitava crianças.
Então, aproveitou o curso d’água, encanando-o até a casa do sítio, pois ele e os filhos ainda precisavam sentir na pele e nos olhos o doce contato daquelas águas de veludo. E pela porta da casa, aberta para a pequena correnteza através dos canos, entrou aquela água cristalina casa a dentro, enchendo de delicioso enlevo o coração de todos, principalmente do papai, que ficou a contemplar o precioso líquido saindo das torneiras... Com muito prazer aparava, com a mão em concha, a água fresquinha que voltava, com alegria, a cantar: Chuá! Chuá! E descia da torneira, com alegria, a correr: Chuê! Chuê!
E para alegrar também o olho d’água, que já vivia triste sem quase contato humano, papai resolveu colocar uma bica na parede da barragem. E a “Bica do Seu Renato” passou a ser ponto turístico da cidade, onde os jovens se deleitaram em desfrutá-la... E por muito tempo serviu aos filhos, netos, bisnetos, sobrinhos, genros, nora e amigos do Seu Renato... Minhas filhas e sobrinhos têm também muitas histórias pra contar daquele olho d’água.
Mas um dia, Seu Renato envelheceu a ponto de não mais poder ir sozinho do centro da cidade para o sítio; atividade que fazia duas ou três vezes por dia, para cuidar e amar aquelas terras herdadas de seus antepassados... E a saudade do olho d’água, curtido com tanto orgulho por causa dos filhos, apertava-lhe o coração de modo brutal. E não tirava ele o pensamento do sítio... Acostumado à rusticidade da serra, na labuta do campo, não suportava aquela rotina de velho... Por esse tempo os filhos, já todos casados e cada um seguindo o seu destino, curtiam de longe a saudade do velho olho d’água, que a cada instante deixava brotar um novo filete...
Os netos do Seu Renato também já estavam crescidos e outras atividades passavam a interessá-los. E nós, vez por outra levávamos papai ao sítio para matar a saudade. Sempre ao chegar às terras em que tanto labutara, Seu Renato sentia que as forças lhe fugiam para andar serra acima e serra abaixo, naquela vivacidade de outrora...
E o olho d’água entristeceu! Ninguém para lhe cuidar com carinho! Ninguém para lhe arrancar as ervas daninhas que cresciam a sua volta! Ninguém para limpar o leito da barragem! E o filete-menino não tinha mais amigos, ninguém para lhe barrar o curso d’água! Nenhuma criança a nadar naquele mar cristalino! E Seu Renato a envelhecer mais ainda, sentindo, com tristeza, que sua vista estava fraca, que seus pés arrastavam-se-lhe pelo chão em movimentos tardos. Sentindo seu corpo encurvar-se e cada membro seu enfraquecer... No entanto, orgulhava-se de sua lucidez, de sua memória extraordinária. Podiam perguntar-lhe sobre seus antepassados e sua cidade; podiam perguntar-lhe até sobre a vida de Virgulino Lampião, padre Cícero Romão Batista, Antonio Conselheiro; podiam perguntar-lhe sobre as fruteiras plantadas por ele no sítio, ele não titubearia... Porém, sentia que lhe fugia a força da coragem e sentia que sua saúde cada vez mais se debilitava...   E nós, seus filhos, sempre ali, marcando presença em sua vida. Na sua modesta existência de ancião nunca lhe faltou nada! Pelo contrário, seu tesouro estava mais polido e com ele podia contar sempre: seus filhos! Com o tempo somente uma coisa lhe afastava de tudo: a vida! E tudo tem seu tempo e hora...
Um dia, para tristeza de seus filhos e do olho d’água, Seu Renato precisou partir... Vimos, com bastante pesar, a ida do nosso grande idealizador... E bateu-nos de cheio a dura realidade: o curso da vida é semelhante ao curso da água, tem seu fim. Tristemente chegara a vez dele. Mais cedo ou mais tarde chegará a nossa vez e também a vez da fonte, que vive tristemente a cantar: Chuá! Chuá! E lentamente a correr: Chuê! Chuê! Só o tempo dirá até quando... O impiedoso tempo se encarregará de destruir tudo... E novos filetes d’água haverão de surgir, novas crianças haverão de nascer e outras vidas passarão a existir... É a lei do universo.  
Por
Iolanda






terça-feira, 13 de dezembro de 2011


MEUS ANOS DOURADOS


Os anos 60 representaram em minha vida
O meu grande viver, o meu potencial:
A minha infância, na doce guarida
E a minha adolescência pura, sem igual.

Os anos 60, em extensão, marcaram
Meu tempo de criança, das grandes brincadeiras.
Saudades eternas que intensificaram
O correr no quintal entre as bananeiras.

Os anos 60 representaram, então,
A minha meninice e a minha juventude.
O dengo de criança e a grande paixão
De uma adolescente na doce plenitude.

Os anos 60, belos anos, sim,
A brincar na praça, em cantigas de roda.
Dançando e “flertando” nas “tertúlias”, enfim,
No ritmo do “iê iê iê”, naquela vigente moda.

Os anos 60, meus anos dourados,
Tempo de amor, tempo de criança.
Tempo de paixão, suspiros dobrados,
Linda juventude cheia de esperança.

Os anos 60, de barro as panelinhas
A fazer “guisado” no quintal de casa.
Emoção ardente nas cartas, entrelinhas,
Amor de adolescente, coração em brasa.

Os anos 60 do correr, do pular corda,
Da boca de forno e também do jogar bola.
Das festas dançantes que minha mente recorda:
As músicas! Os paqueras! De saudade o peito assola.

Os anos 60 das brincadeiras de boneca,
De bila, de cabra cega e da roda do pai Francisco.
O ping pong, a macaca, o bom jogo de peteca
E na doce adolescência daquelas festas com disco!

Os anos 60 do “collant” e da “peruca”,
Do “brilho”, do “rouge” e do “pó de arroz” também.
 Do jogo de futebol, do vôlei e da sinuca,
Era o nosso acalento, era o nosso querer bem.

Os anos 60 dos vestidos de “bolinha”,
Da linda saia rodada e da blusa “cacharrel”
Enfeitando o fino corpo daquela dócil mocinha
A esbanjar, sorridente, essa moda a granel.

Os anos 60 do “twist”, aquela dança
Que empolgava os “brotos” nos embalos a “curtir”.
Era de tal forma divertida! Uma bonança!
Nos nossos anos dourados, muito prazer a sentir.

Os anos 60 dos “hippies” – “Paz e Amor”,
Da corrida espacial, do homem a pisar na Lua.
Da Guerra do Vietnã, das crises, grande terror
E daquela menina alegre cantando por toda a rua.

Os anos 60 dos “Rolling Stones” a cantar,
LP, fita K7, do “compacto” e da “vitrola”.
Da menina o devaneio, coração a palpitar
Entre a Igreja – o catecismo e os deveres da escola.

Os anos 60 da saudosa “Bossa Nova”,
Da gostosa “Jovem Guarda” e do Rei Roberto Carlos.
Daquelas “festas de arromba”, de estudar para a prova;
Da menina a requebrar naqueles doces embalos.

Os anos 60 dos sapatos “Anabela”,
Da bonita “minissaia”, das botas e da brilhantina.
Dos “brotos”, do “rock and roll”, daquela menina bela
Dos cabelos arrumados com “laquê” e purpurina.

Os anos 60 dos “Beatles”, a incrível banda,
John Lennon – o imortal, os “brotos” a desmaiar.
Elvis Presley – o americano, o grande rock comanda
E a menina suspirando, os sonhos a embalar.

Os anos 60 do “pão”, do “broto legal”,
“É uma brasa, mora!” Aqueles tempos revivendo.
E a fala da menina expressando esse ideal:
“Pode vir quente que eu estou fervendo”.

Os anos 60 dos topetes à brilhantina,
Das bonitas calças jeans e das jaquetas de couro.
E na praça a passear aquela dócil menina
Vestida de “minissaia”, bonita, dando estouro.

Os anos 60 da “ternurinha” Wanderleia,
Do Ronnie Von, Erasmo Carlos, Jerry Adriane e Wanderlei.
E a menina a assistir tudo, a fazer parte da plateia,
A pular e a gritar, a torcer pelo seu rei.

Os anos 60 do então “Tropicalismo”
No final da grande década, daquela era de glória,
Daquela era de amor e de total otimismo
E a menina a viver, a fazer parte dessa história.

Por
Iolanda

Poema extraído do livro:
Minha Palmácia de Ontem






















VOU PARAR!
A SAUDADE É GRANDE!
MAS O SONHO NÃO ACABOU...