RECORDAÇÕES
“MANÍSSIMO” BENJAMIM
Benjamim Moisés, meu único irmão,
O quinto filho da nossa família, sim.
Uma prole de oito, unidos de coração,
Mas separados por ocasiões da vida, enfim.
Seu primeiro nome próprio: Benjamim
Foi honrada herança do saudoso avô materno.
O Moisés, nome bíblico, por demais, afim,
Herdou meu mano, do nosso avô paterno.
O nome Benjamim e o nome Moisés unidos
Quiseram nossos pais, então, homenagear
Seus queridos genitores, dos enlaces emergidos
Do amor, na união de dois seres a embalar.
Benjamim! Beijo-te! E lembro-me agora
Dos nossos velhos tempos de criança.
Quando vivíamos a brincar, na doce aurora
Da vida, do viver, da esperança.
No Sítio “Cabocos”, na praça, nas calçadas
Vivíamos a correr, a cantar, sempre a brincar.
Crianças matreiras, nas carreiras embaladas,
A pular, a cair, a chorar e levantar.
Lembro-me do teu modo de me “engabelar”,
Enganando-me, de cheio, em muitas ocasiões.
E eu caindo em tua conversa, de fato, a aceitar
A tua maneira, o teu jeito e as tuas decisões.
Recordo-me, saudosa, das nossas brincadeiras
No grande subterrâneo e no quintal lá de casa.
No curral da Bordada e bem entre as bananeiras,
Ao relembrar aquele tempo, de saudade o peito arrasa.
Brincadeiras de bila, de bola, de pião e de peteca!
Sei que sentes saudades do teu tempo de menino,
Quando brincávamos de tudo, até mesmo de boneca
E daquela grande boiada com nossos bois de pepino.
Uma vez nós enchemos de areia uma caixinha
E num papel de presente, bem bonito, a embrulhamos.
E logo em volta da mesma colocamos uma fitinha
E uma grande linha nylon no seu centro amarramos.
Ficamos na expectativa, esperando escurecer
E quando a noite chegou, lá na praça a colocamos
Bem no meio de um banco, sem nem mesmo aparecer
A linha nylon que logo, de mansinho, a puxamos.
E essa mesma linha nylon amarrada na caixinha
Atravessava a estrada e dava na nossa porta.
De longe se via, então, uma prenda bonitinha,
Uma caixa de presente esquecida! Isso importa!
E ficamos sentados lá em casa, no batente,
Manobrando o presente através da grande linha.
Esperando alguém sentar e num gesto bem latente
Querer levar para si aquela bela caixinha.
Minutos de expectativas se transformaram em horas
Sem que ninguém aparecesse pra cair na armação.
Quando avistamos na ponta da avenida duas senhoras
Que olharam curiosas, aquela “arrumação”.
E meu mano Benjamim, segurando a grande linha,
Esperou que uma delas caísse na armadilha.
Mas as velhas, precauçosas, não pegaram a caixinha,
Saíram, sim, a balançar as cabeças, em partilha.
A caixinha de presente estava ali, abandonada,
Naquele banco da praça, naquela ocasião.
Cada pessoa que passava ficava desconfiada
E pra pegar a caixinha não tinha coragem, não.
Quando na ponta da praça apareceu o Raimundo,
Filho do tio Manassés e irmão da Felismina.
Alertei o Benjamim, dando-lhe um puxão profundo,
Seria aquela peraltice o meu desejo de menina.
Ao avistar a caixinha o Raimundo apressou
Suas passadas e no banco se pôs logo a se sentar.
E para todos os lados da praça ele olhou
Pra ver se tinha alguém, de pronto, a lhe espiar.
E de mansinho o Raimundo foi, então, se aconchegando,
Bem pertinho do presente seu desejo era ficar.
Se chegando... Se chegando... E para os lados olhando
Estava, enfim, o Raimundo pronto a se deleitar.
E nós, na frente do fato, do outro lado da rua,
Prontos a satisfazermos a nossa grande aventura.
“Benjamim, a peraltice era minha e era tua,
Naquele tempo de criança não se via a amargura.”
Quando, então, o Raimundo, disfarçando sorrateiro,
Com a sua mão de bobo o presente ia pegar,
Benjamim puxou a linha e num gesto derradeiro
Caímos na gargalhada e o Raimundo a nos olhar.
A caixinha de presente veio para o nosso lado
E lá no banco da praça ficou apenas o Raimundo,
Que com raiva da armadilha ficou logo encabulado,
Falando “palavreado” com a gente, bem a fundo.
Da sua cara vermelha parecia que saíam
Grandes labaredas, de tanta raiva, enfim.
Da sua boca impropérios para a gente emergiam
E nós dois a gargalhar: eu e o mano Benjamim.
Estas cenas, meu irmão, que agora relatei
Ficaram em minha mente, do nosso tempo saudoso.
Do nosso tempo de criança eu jamais esquecerei,
Foi um tempo de alegria, naquele mundo ditoso.
Por
Iolanda
Poema extraído do livro:
Minha Palmácia de Ontem
Por
Iolanda
Poema extraído do livro:
Minha Palmácia de Ontem
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