segunda-feira, 19 de dezembro de 2011


OUTRA FONTE EM MINHA VIDA!
CHUA! CHUÁ!
CHUÊ! CHUÊ! 



A PERENE FONTE

Lembro-me, saudosa, da perene fonte,
              Fenômeno extraordinário daquele meu viver,      
Quando eu, junto às amigas, “ao monte”,
Íamos tomar banho ao entardecer!

Ainda hoje essa perene fonte
De Bica chamada, está a abastecer
O nosso povo, o nosso horizonte
De água pura que vive a correr.

Porém, hoje o modo de abastecimento
Está moderno, está mais avançado.
A água vai às casas por encanamento,
Não mais nos jegues, com as cargas de lado.

No meu tempo de menina era assim:
As cargas d’água iam em um jumento
Da Bica ao pote pra cessar, enfim,
Aquele modo de abastecimento.

Na fonte, cedinho, era uma algazarra:
Bater de latas, relinchos de jumento.
E de água pura, quem tinha mais garra
Enchia logo as cargas, e o peito de contentamento.

Qualquer pessoa que na estrada passasse,
Perto da Bica ao raiar da aurora,
Ouvia o chuar da água, os assobios, o enlace
Das cargas aos jumentos, e os gritos: “Eeeia! Vamboora!”

No Sítio Bica do Major Salu,
Meu bisavô que eu não conheci,
A água era dada pra mim e pra tu,
Mas hoje é paga e isso ele não quis.

Durante toda a manhã se presenciava
O comboio trotando na poeira da estrada.
As senhoras ao coar no pano, a água tratava.
E os jumentos cansados daquela triste jornada.

Já na parte da tarde a Bica ficava vaga,
Propensa ao banho por quem lá passasse.
E ia muita gente, aproveitando a saga,
Antes que o sino da Matriz a Ave Maria tocasse.

Sempre íamos de turma para o banho,
Turma de mulheres, turma de garotas.
Cada família carregando seu belo rebanho:
Avós, mães, meninas e crianças rotas.

No topo da serra, na entrada da fonte
Tínhamos que parar pra nos certificar
Se entre as bananeiras, ao pé daquele monte,
Estava o sexo oposto nas águas a se banhar.

E alguém da nossa turma: “Tem homem aí?!”
Gritava bem alto, pra ser logo ouvida.
E lá de baixo um grito: “Não! Só tem mulher aqui!!!”
E a turma, alegremente, descia em seguida.

                As crianças despidas, sem nada de anexos,     
                    Nas águas da Bica a se deliciar.                       
              O respeito era mantido, para ambos os sexos,
                 Vez perdida um moleque a nos espreitar.

Lembro-me, nitidamente, em uma bela tarde,
Todos lá de casa pra Bica a caminhar.
Guardo na lembrança e meu peito arde:
"Vó" Marizinha, mamãe, tias, primas, eu e manas a conversar.

Descemos, contentes, o alto da fonte,
Mas antes a costumeira pergunta a fazer.
E as pernas correndo, vencendo o monte,
Pro banho da Bica feliz receber.

Um pé de castanhola com pregos lá na Bica tinha
Pra turma toda, de cabide servir.
Pendurar as roupas a gente se detinha
E pro banho ia, naquele convir.

As muitas pedrinhas entre a pedra lisa
À qual nos apoiávamos, os pés a ralar.
Pedrinhas branquinhas, redondas e a brisa
Da serra lá tinha, pra nos embalar.

Entre correrias e muitas brincadeiras
A turma feliz, o banho “repete”.
De verde pintura, as muitas bananeiras
Eram as paredes da nossa “toalette”.

O sabonete Phebo da “vó” Marizinha,
O talhe da Bica, a água a descer,
Aquela castanhola e as brancas pedrinhas
Ficaram na lembrança do meu florescer.

Por
Iolanda

Poema extraído do livro:
Minha Palmácia de Ontem


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