terça-feira, 26 de julho de 2011

GRATIDÃO AOS MEUS AVÓS

Neste dia (26/07) dedicado aos avós, eu não poderia deixar de declarar minha eterna gratidão aos meus avós, que representaram muito em minha vida. Com eles cresci e incorporei  ensinamentos e experiências, na cidadezinha onde nasci, no aconchego de uma família unida e feliz.
Falarei, em primeira mão, da minha querida “ 'Vó' Senhora Centenária", minha avó paterna,  com a qual convivi diretamente, morando na mesma casa e aprendendo tudo com ela, ouvindo as histórias da sua mocidade, participando do seu mundo e sendo encorajada por ela. Logo após, citarei “O Casal de Pombinhos”, meus avós maternos, que foram exemplos de amor maior, de união, com os quais também convivi e guardo muitas coisas boas, como quando eu ia pra casa deles, que era num sítio, o Sítio Bica, correr entre as bananeiras, subir nos pés de mangueiras, banhar-me nas águas límpidas do Poço dos Cachorros e brincar do jogo de pedra com coroços de mucunã... No meu livro “Minha Palmácia de Ontem” estão estas duas poesias abaixo, que retratam um pouco cada um deles. Vejam!


VÓ” SENHORA CENTENÁRIA

Da minha “vó” Senhora, centenária,
Grandes recordações a relatar!
Uma delas: com seu radinho de pilha, solitária,
Que vez por outra estava a escutar!

Lembro-me também da sua sacola
Que ao lado da cama conservava.
Tinha cordão, linha, botão, até “virola”,
Tudo que a gente queria, ela “emprestava”.

Era uma senhora muito categórica,
“Quem pariu Mateus que balance!”
Pronunciava sempre essa frase histórica
Pra determinar, então, o dono de uma "trance".

Ela adorava, por deveras, a minha mana Neta
E esta a ela também amor puro dedicava.
Viviam juntas, tal as letras gregas Alfa e Beta,
Toda noite, na cama da “vó” pra dormir ela deitava.

No final de sua vida “vó” Senhora tinha
Dois filhos que a acolhiam em suas moradas.
Lá em casa ela dormia e na casa vizinha
Fazia suas refeições bem prolongadas.

Esses dois filhos que lhe "acolhia",
Um era o grande e saudoso tio Djalma.
O outro, meu pai Renato, que bem mais queria
Era ver a vida dela saudável e muito calma.

Já velhinha, “vó” Senhora andava pra todo canto,
Dentro da nossa casa e na sua casa vizinha.
A esperteza que ela tinha nos causava espanto,
Ela era forte e viva como uma mocinha.

Sua vista centenária, porém, estava cansada
                        E aqui um fato a respeito irei relatar,                        
Da minha querida “vó” Senhora tão amada
Que se deu na sua vida a labutar:

Bem cedinho, na sua casa vizinha,
Em sua cadeira de balanço pra sentar ela chegou.
Viu que uma coisa preta no assento tinha,
Achou ser seu casaco e o olho nem piscou.

Mas logo um grande susto ela tomou,
Pois um miado agudo da cadeira veio.
Ao apalpar aquilo, ela se certificou
Que quase parte uma gatinha ao meio.

Quando eu era bem pequena ela dizia
Que eu era sabida e muito inteligente.
E a mandar-me desenhar ela vivia,
Flores e ramos, de caixas de presente.

Dava-me, então, vazias, caixas de sabonetes,
Para os desenhos impressos eu imitar.
E pra não desapontá-la à custa destes
Eu suava muito a trabalhar.

Lembro-me da caixa de sabonetes “Alma de Flores”
Que eu dia ela pediu-me a desenhar.
Sofri, deveras, de cabeça dores,
Para não ter que lhe desapontar.

Finalmente, depois de muito pelejar,
Aqui e acolá, apagando e riscando,
Eu consegui, enfim, o desenho imitar
E contente, depois saí brincando.

Ela achou belíssimo o desenho,
Rabiscado e pintado tal qual o original.
Em seguida teve por dever o grande empenho
De mostrar a todos o feito sem igual...

...Para a idade minha, que era branda,
E depois de tudo num envelope colocou,
Endereçou a uma filha sua, a tia Iolanda,
E o desenho pra Recife ela embarcou.

Obrigada, minha querida avozinha
Por ter-me incutido o modo de perseverar.
Ainda hoje o uso nesta vida minha,
Risco, apago e rasgo! Tento até acertar.

Que Deus a tenha lá no Céu, oh! “Vó” Senhora,
No Paraíso, na paz de Nosso Senhor.
E abençoe aqui na Terra esta sua neta, agora,
Que vive a recordar o seu amor.

Por
Iolanda



O CASAL DE POMBINHOS

“Vô” Benjamim e “vó” Marizinha,
Meus avós maternos que tanto amei,
Ficaram na lembrança desta vida minha,
A infância e a adolescência com eles desfrutei.

Lembro-me dos dois na “Namoradeira”,
Cadeira de vime em que se sentavam.
Conversa pura, simples e verdadeira
Os dois pombinhos lá compartilhavam.

Recordo, bem pequena, quando eu chegava
Na grande casa deles, para passear,
Lembro-me, saudosa, que o vovô falava
Umas palavras, assim, pra me abençoar.

Quando eu dizia: “A benção, vovô!”,
Ele imediatamente respondia, então,
Naquelas palavras que transmitiam amor
E que muito vibravam no meu coração.

Ele falava: “Deus te dê fortuna!”
E isso realmente bem me alegrava.
Essa frase nunca me foi importuna,
Dela guardo sentido, muito eu gostava.

Mesmo sem saber o significado
Daquelas palavras, eu bem entendia
Que eram coisas boas, coisas de agrado,
Que me abençoava quase todo dia.

Meu saudoso avô, na sua vida ativa,
Foi um grande herói, um grande lutador.
Comerciante ambulante, retrospectiva
Da sua vida faço com orgulho e amor.

Devido à sua garra e perseverança
Adquiriu terras/sítios e imóveis também.
Construiu família e com grande esperança
Criou toda ela, sem lhe faltar vintém.

Porém, disso tudo, sua maior riqueza
Era seu caráter, seu posicionamento.
Muitos lhe procuravam e com toda presteza
Vovô aconselhava, dava ensinamento.

Amigo de todo o povo da cidade,
Da criança, do jovem e até do ancião.
O povo de Palmácia, de qualquer idade,
Sempre lhe procurava para uma opinião.

Meu querido pai seu grande amigo era
Mesmo sem sonhar de que casaria
Com uma filha sua, naquela primavera,
Coisas do destino: isso aconteceria!

Já a “vó” Marizinha, meiga e delicada,
Era só candura, pureza e mansidão.
Sua voz suave, firme e emanada
Enchia-me de força, carinho e emoção.

Tinha os cabelos longos, na cintura,
Brancos e lisinhos, de nylon uns grandes fios.
A gente os escovava na maior doçura,
Fazendo penteados: “cocó” e outros brios.

Ela era cheirosa, gostava de talco,
Era um acessório que não podia faltar
Na sua “penteadeira”, uma peça do palco
Da sua vaidade cândida, muito a desfrutar.

Porém, sua vaidade bem antes tinha sido
De uma tenacidade, de intenso vigor.
Mas, por uma causa, um fato acontecido,
Tornou-se, assim, bem branda, sem tanto esplendor.

O fato acontecido se deu quando ela
Com “vinte e um anos” ao se maquiar
Na sua “penteadeira”, uma filha dela,
Minha mãe, a dona Ildete, chegou a lhe falar...

...Umas palavras simples, de criança inocente,
Talvez por ciúmes da mãe ao se pintar,
Ao trocar os carinhos que eram seus, o gozo veemente,
Para o pó, o batom e o rouge a lhe enfeitar.

Ao sentir-se, assim, um pouco indistinta,
A filha, na sua pura inocência de criança, proferiu:
“Vou dizer a todo mundo que a senhora ainda se pinta!”
 E essa foi a última vez que a vovó se produziu.

Eu soube tudo isso da mamãe, por intermédio,
Que, por sinal, se arrependeu de ter falado isso, sim.
“Que mal havia naquele gesto?! Nenhum tédio!
Eu estava com ciúmes!” Ela disse isso pra mim.

Mamãe notou que sua mãe, a minha avó, desde então
Passou a se precaver mais ainda, a elevar
Sua honra, sua candura, sua vida, sua paixão.
Cada gesto analisava, pra não mais poder falhar.

De uma vaidade extrema passou à branda candura,
Pra não parecer vistosa e chamar a atenção do povo.
Uma senhora distinta, uma simples criatura,
Os gestos analisados pra não mais “errar” de novo.

Mamãe recorda um presente que um dia lhe ofertou:
Uma fazenda azul de bolas brancas, então,
Vovó fez um vestido, mas as bolas ela pintou
Com um lápis de escrever, pra não chamar atenção.

Até no seu sapato ela também analisava,
No modelo e no formato ou mesmo qual era a tinta.
Sapatos pretos e bem fechados eram o que ela calçava,
Queria sempre se apresentar uma senhora bem distinta.

Dentre os vários predicados da minha “vó” Marizinha
Um deles que ela era por demais muito bondosa.
Aos filhos e aos criados ela sempre se detinha,
Ao marido e aos netos se mostrava caridosa.

As criadas/domésticas que em sua casa moravam
Passavam anos e anos e de lá mesmo só bem saíam
Quando um casamento certo e seguro elas arranjavam
E algumas delas, indecisas, ainda assim não mais queriam...

...E permaneciam morando com vovó, então,
E vovó, dessa forma, ainda amparava
Aqueles casais, ademais, na difícil criação
Dos filhos deles, também ajudava.

Minha mãe conta que vovó casou
Cinco empregadas que lhe "ajudava",
Com festas, enxovais e ainda criou
Dois filhos dessas e muito os amava.

“Vó” Marizinha, na sua velhice,
Foi amparada pelos filhos, sim.
E aprontou demais na sua caduquice.
Aperreando muito o “vó” Benjamim.

Quando velhinha passou a morar
Com tia Ieda, sua filha terceira,
Mas vivia o tempo todo a caducar,
Aprontando muito, por qualquer besteira.

Ela era bem cuidada, ainda andava cheirosa,
Na sua melhor idade ele era bem tratada.
Seus cabelos penteados num lindo “cocó”, uma rosa
Parecia que surgia da cabeça, encantada!

Sua caduquice, às vezes, muito que atrapalhava
Quando ela, ligeira, se punha a arrumar e então
Suas roupas, sua bagagem ela, assim, tudo “embolava”
Numa “trouxa” pra ir embora naquela ocasião.

Misturava roupas limpas às roupas sujas e queria
Uma grande “trouxa” fazer, ir ao açude lavar.
E falava em tom alto, que de longe se ouvia:
“Cadê o sabão, Maria, que eu quero trabalhar!”

A Maria, para ela, era a sua filha Ieda,
Que, com grande paciência, de pronto lhe atendia.
Seria capaz de caminhar por uma longa vereda
Pra satisfazer tudo aquilo que ela sempre lhe pedia.

E prontamente surgia com o sabão
Mas, de perto, ficava atenta a espiar,
Como quem repara uma criancinha, então
Vovó notava e ficava, resmungando, a reclamar:

“Vá embora, Maria! Toda empregada vai embora!
Só você que não vai!” Nessa caduquice a vovó vivia
E tudo isso aqui eu conto nestes versos agora
Para relembrar o grande bem que eu lhe queria.

Os atos de sua caduquice tinham fundamento
Pois ela sentia que ali não era sua casa.
E aquilo para todos era um sofrimento.
Ao lembrar-me, a saudade no meu peito arrasa.

Às vezes ela arrumava as “trouxas” e perguntava:
“Já selou os cavalos, Benjamim?”
E as “trouxas” na calçada colocava
E queria, a todo custo, ir pra sua casa, sim.

Minha mana Dodô com a prima Miriam
Arranjavam um jeito de pronto lhe acalmar,
Colocavam-na no carro, bem cedinho, de manhã,
Davam um volta na cidade para então lhe enganar.

E na volta do passeio elas diziam assim:
“Pronto, vovó, chegamos na sua casa!”
E ela mesma ajudava as “trouxas” a retirar, enfim,
E ficava feliz. Oh! O coração abrasa!

Desses dois pombinhos eu tive a felicidade
De vê-los namorar em sua cadeira de vime.
Bem velhinhos e eu nova, na minha tenra idade.
Perdê-los, nesta vida, foi pra mim um grande crime.

Meu avô morreu primeiro e transcorrido um mês
Que ele estava lá no Céu com Jesus, Nosso Senhor,
Minha avó daqui da Terra se despediu de uma vez
E foi viver novamente junto do seu grande amor.

 Sem que ninguém lhe dissesse que vovô tinha morrido
Vovó sentiu sua falta, mas nem mesmo demonstrou,
Porque durante a sua ida, naquele mês transcorrido
Vovó adoeceu bastante e muito triste ficou.

E partiu definitivo, em outra casa morar,
Pra procurar e buscar seu querido Benjamim.
E toda a sua família aqui ficou a chorar,
Com a falta dos pombinhos o mundo ficou ruim!

Benjamim e Marizinha para mim eternizados
Aqui no meu pensamento, na sua “Namoradeira”,
Os dois juntos a conversar com os braços entrelaçados,
Coisa rara, nestes tempos, uma paixão verdadeira.

Por
Iolanda


  Obrigada, meus avós!
Seus ensinamentos serviram para guiar-me na vida!

6 comentários:

  1. IOLANDA, MEUS PARABÉNS. VOCÊ COMO SEMPRE COM SUAS SURPRESAS E LINDAS RECORDAÇÕES.
    OBRIGADA PELA LEMBRANÇA DE PARABENIZAR-ME PELO DIA DA VOVÓ, RSRSRS
    VALEU! CONTINUE COM SUAS POSTAGENS E ESPERO QUE AS MEMÓRIAS QUE IRÃO LER, FUNCIONEM E VOLTEM AO TEMPO DE VERDADE E RECONHEÇAM O VALOR HUMANO DE SEUS CONTERRÂNEOS.

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  2. Iolanada, gostei bastante dos seus posts. Sua bisavó não a conheci, maa a dona senhora fez parte da minha infancia a quem eu admirava muito. Parabéns pela sua iniciativa!

    Aila Simplicio Campos
    27 de julho de 2011 10:30

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  3. Está muito lindo aqui! Eu e minha mãe adoramos tudo. Beijos! Por: Vitória e Elizabeth Campelo.

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  4. como me emocionei oa relambrar de tudo,porem tudo com simplicidade acompanhei,vó senhora mulher guerreira que com sua determinação nos ensinou o certo e o errado,vó marizinha e vô benjamim o casal que foi um exemplo em nossas vidas

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  5. QUE COISA LINDA MINHA "TIA-PRIMA", que narração perfeita da vó senhora. Era como a vovó mim contava sempre, mas assim narrado por vc consigo imaginar cada detalhe, que emoção! D.Irismar parecia muito com ela, os dizeres, a dedicação afetuosa com as NETAS, eu e minha vozinha éramos exatamente assim e ainda sei que apesar da distância somos e seremos de forma eterna! Como ALFA E BETA. Obrigado, por sua SENSIBILIDADE, por suas palavras que nos trazem lembranças sempre boas, eu diria que muitas si tornam ao lermos TÃO VIVAS que é impossível si conter! Beijos! (AMANDA LORENA)

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  6. Muito bonito, Iolanda. Essas lembranças emocionam de fato. (Helder Campos).

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